por Roberto Prado
Um tio meu, lá de Santo Antônio da Patrulha, costumava dizer que amizade é vício. E ainda tinha a pachorra de explicar que a doença começava na simpatia, da raiz grega synpathein, algo parecido com “sofrer junto”.
Ser amigo dói e faz doer? Confesso que eu, mesmo cultuando a genialidade desse meu tio, não conseguia digerir completamente o conceito, apimentado demais para um mero iniciante no mundo das drogas emocionais.
Turbinado pelo meu bando e protegido pela minha turba, eu ainda era incapaz de avaliar os terríveis efeitos colaterais produzidos pelo hábito de compartilhar as dores da tribo.
Agora, vamos aos phatos, como diria, carregando no sal, aquele meu tio. Pense na expansão global de todos os tipos de bordéis e diga se não é verdade que esse sucesso estrondoso nasce da busca do prazer no contato descompromissado com estranhos, inimigos imaginários e indiferentes.
Seria essa prostituição nas relações uma forma de fugir das simpáticas criaturas pelas quais nos doemos de graça? O que vendem os barões da felicidade? Amigos, amigos, negócios à parte, não damos um tostão furado para os coitados que conhecem a nossa face sofredora, a não ser quando eles inventam de adoecer. E, pior, quando se vão sem cumprirem o solene pacto de morrer todo mundo abraçado.
Hoje, depois de uma desabalada sucessão de janeiros, vejo claramente que, assim como percebia aquele meu tio de Santo Antônio da Patrulha, venho me entregando gostosamente ao vício de sofrer em grupo. Viver dói, o mundo é cheio de arestas e em todo canto existe uma quina pronta para saltar sobre a sua canela.
Por isso, continuo cultivando uma sábia burrice: mais triste que levar no lombo junto com os amigos, é ser feliz em má companhia.
Taí. Curti.