9:58NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

Um jogo, é isso que armo como quem arma arapuca. Tranço os paus, escolho a corda, tudo se vai amarrar. Um jogo como o de cartas, mas cartas não respondidas, pudera! Nem enviadas e, talvez, até malescritas. Se foram feitas, quem sabe na postagem não perderam o rumo, se rumo havia sobre o envelope sem selo. Um jogo, um truque sem sê-lo, que pra ser truque é preciso qualquer coisa como mágica, algo assim como mistério envelopando a aventura. É preciso ser mandrake, que a vida é circo, e no circo podemos ser trapezistas, mas é sempre por palhaços que nos toma o auditório. Quem sabe, agora, se a corda com que encordoo a viola não acorda o sentimento mais denso dentro de mim, sem precisâncias de jogos, e me enforque eu mesmo nela, abrindo as portas pra morte como quem fecha janelas. Um jogo, é isso o que resta quando a amargura mais funda vem e corta tua festa. Um jogo de paciência jogado no mano a mano, sabendo que ali se joga o enganado contra o engano. O perdedor é quem ganha se houvesse ganhador, mas quem ganha também perde, que só um é o jogador. Nessa festa sem parentes joga-se o jogo da vida como se fosse da morte. Eu, sem querer, precisava naco da tua atenção. Que a gente se carecesse como se carece irmão. E que a vida que nascesse da minha e da tua mão fossem frutos, fossem fatos feitos de afeto e emoção. Cortados o jogo e a festa, que resta quando a dor funda vem e afunda o teu amor? Nada mais vive tanto que a tarde que vai morrendo. Nada mais grita tanto que teu silêncio na casa. São coisas que coleciono como quem tem cartas boas. Um dia, quem sabe, volte a jogar na mesma festa. Então, terei cartas boas pra jogar com o ganhador. Talvez perca novamente, talvez nunca ganhe nada. Mas, o jogo é de paciência. Só um joga e só um ganha, quem ganha é o mesmo que perde. Por isso, joga-se à toa. Pra que guardar cartas boas?

2 ideias sobre “NELSON PADRELLA

  1. SERGIO SILVESTRE

    Genghis Kan,Alexandre o Grande,Papas,Santos,incontáveis bravos homens da guerra,leitores do ZB tiveram em algum momento da vida uma vontade danada de limpar a rabo com um sabugo,cantar mariquinha ,maricota na soca de bananeira,subir num toco enquanto a égua ergue o rabo.
    Todos esses homens,grandes homens tiveram em algum momento de suas vidas algo enrustido que fizeram entre 4 paredes.

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