por Mário Montanha Teixeira Filho
A Lava Jato foi sepultada no dia 3 de fevereiro. Seus operadores, conforme decidiu a burocracia que coordena o sistema de Justiça, funcionarão como apêndice do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Perdem o status de cavaleiros da moralidade e voltam ao chão pisado pelos pés dos mortais. Na prática, é o fim da república de Curitiba, que nunca deveria ter existido.
Combater a corrupção é uma demanda recorrente na história. Pena que essa bandeira, de aparência nobre e edificante, tenha sido apropriada, desde sempre, por malandros incorrigíveis, golpistas convictos e heróis de mentira. A Lava Jato, formada em 2014 para investigar, entre outros, crimes vinculados à administração da Petrobras, ganhou apoio dos meios de comunicação e prestígio popular. Ainda sob o impacto das jornadas de junho de 2013, de luta contra o aumento dos preços das passagens do transporte coletivo em São Paulo, a força-tarefa ocupou espaços políticos cada vez maiores. Convém lembrar que o que sobrou daquelas manifestações, que nos seus momentos derradeiros já anunciavam a expansão do reacionarismo que cobiçava os cargos mais altos do poder, foram discursos toscos e performances constrangedoras de fanáticos trajados de amarelo e verde.
Os dois expoentes da “nova” ordem jurídica brasileira, Sérgio Fernando Moro, juiz da 13ª Vara da Justiça Federal, e Deltan Martinazzo Dallagnol, procurador da República, aboletados numa Curitiba convertida em trincheira de indignados, encontrariam na xepa de 2013 o seu público cativo, que cresceu bastante nos anos que se seguiram. Responsáveis por ações espetaculares executadas por agentes da Polícia Federal, coube-lhes realizar a vingança em nome do “povo”. O prendo-e-arrebento se tornou prática corriqueira – e atração televisiva –, à margem das normas processuais, e o ativismo da dupla foi generosamente recompensado pelo “sistema”. Moro e Dallagnol assumiram o papel de super-heróis, adulados por juristas heterodoxos, pela mídia empenhada em “endireitar” o Brasil e por liberais desejosos de menos Estado e mais lucro, para cumprir com zelo a tarefa recebida.
Tratava-se de interferir diretamente no cenário político e “corrigir” as escolhas eleitorais tidas como inconvenientes pelos que mandam de fato. Para isso, os tanques de outrora foram substituídos pela sisudez das togas. A Lava Jato – e todo o aparato de Justiça, em suas diferentes instâncias e divisões – foi determinante no impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, na prisão de Lula, que ameaçava retornar à Presidência, e na institucionalização da barbárie comandada por Jair Messias Bolsonaro.
A exposição das manobras golpistas, em 2019, numa série de reportagens do portal “The Intercept Brasil”, não chegou a abalar a estrutura de poder abrigada no lavajatismo. Trocas de mensagens eletrônicas entre acusador (Dallagnol) e juiz (Moro) durante a ação criminal mais famosa da operação, que deveriam escandalizar por seu conteúdo cínico, cruel e repugnante, foram interpretadas pela mídia e por parte interessada do mundo jurídico como eventos corriqueiros. Com a publicização de documentos autorizada pelo STF, a pedido dos advogados de Lula em processo que investiga como as informações foram obtidas, a trama ilegal se confirmou, acrescida de dados estarrecedores. O despacho que liberou o material explosivo, assinado pelo ministro Ricardo Lewandovski no dia 1º de fevereiro, contribuiu para decretar o fim melancólico da Lava Jato.
O que esperar a partir de agora?
Imediatamente, é pouco provável que a realidade se altere. Os atores mais destacados dessa peça triste já estavam à margem da política bolsonarista. Dallagnol se afastou para cuidar de assuntos familiares, e Moro, que virou ex-juiz e ministro de Bolsonaro, função abandonada há pouco menos de um ano, parece ter ficado com um bom emprego nos States, país cujos órgãos de segurança são suspeitos de ter orientado suas ações como chefe do esquema punitivista – sinal de que os patrocinadores do desastre institucional brasileiro não pecam pela ingratidão.
Uma coisa é certa: a farra do lavajatismo, agora desmascarada oficialmente, tende a produzir efeitos jurídicos importantes, em benefício dos muitos réus – corruptos ou não, culpados ou não – submetidos aos caprichos dos justiceiros de Curitiba e de tribunais superiores. Ficará, uma vez mais, a constatação de que o mal coletivo – a roubalheira crônica que adoece um país de futuro que não chega nunca – não desaparecerá por obra de malfeitores disfarçados de paladinos. Todos os que estão aí, os que fabricaram condenações, rasgaram a Constituição que lhes cabia defender, vazaram informações sigilosas, conspiraram, traíram e se locupletaram de seus atos, todos eles acumulam uma dívida gigantesca com a história. Desaparecerão, tragados pela própria mediocridade. Os estragos que promoveram, todavia, não podem ser esquecidos, para que o enredo absurdo de que foram protagonistas não se repita.
A Lava Jato acabou. Lava Jato nunca mais.
A Lava-Jato quebrou o Brasil. Foi o pior evento da história do País. Ainda chegará o dia em que Sergio Moro, Deltan Dallagnol e assemelhados pagarão pelo que fizeram. Enquanto o país padece de pobreza, os excelentíssimos estão cada vez mais ricos.
Essa lava jato é uma indecência! Onde já se viu, prender corruptos e recuperar dinheiro público surrupiado! Parem com isso, estamos no Brasil, ora bolas!
Lavajatismo…
Bolsanarismo…
Populismo…