7:28NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

Eu morava no Egito no tempo da grande peste. Não se podia confiar em ninguém. Você confiava numa pessoa, ia ver, era gafanhoto. Os insetos começaram a tomar conta de tudo. Tomaram os campos e as cidades, as escolas e os quartéis, praças e ruas. Onde você olhava tinha gafanhoto. Ir embora dali você não podia. Sempre que revistavam tua bagagem no aeroporto davam um jeito de encontrar gafanhoto nos bolsos. E você ia preso por contrabandear produto nacional. Não podia faltar ao trabalho; se pulasse era considerado gafanhoto. Pular cerca também era crime: Jesus não curte. Casou com a mulher errada, bem feito. Agora aguente. Qualquer pulinho, não precisava nem ser tipo olímpico, te tachavam de gafanhoto comunista. A única coisa que podia combater os gafanhotos era batatinha frita. Mas tinha que ser fritada pelo fritador credenciado, diplomado pela Universidade de Almôndegas Maduras. Tinha também o leite derramado. Quando sobrava. E não sobrava nunca porque o cacique Bocaporca enchia a piscina duas vezes por dia e se deleitava e se desnatava naquele leito de leite. Chiclete também podia conter a pandemia. Se duvidar, croroquinhas também ajudava barbaridade. Isso quando sobrava croroquinha, que aquela ema do palácio era uma esganada que não podia ver o petisco que já se candidatava.

Filme: A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA (Um filme de Roberto Santos, baseado (epa!) num conto de Guimarães Rosa. Com Leonardo Vilar, Maria Ribeiro e Maurício do Vale). A emocionante saga de um brasileiro que conseguiu ser vacinado quando chegou seu dia D à Zero hora

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