6:08NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

Estava o general Jilós Couvesfora Nada a tirar ouro do nariz (sorry, poeta Drummond), quando a cadelinha de estimação latiu. Isso deixou Couvesfora com vontade de latir também, que é falando que a gente se entende. No quintal, um zurrar de asnos deixava a tarde inquieta. Longe, serrava-se o pau da Amazônia. Aquele militar deu um latidozinho, coisa de pouca monta, só para aquecer a amizade com a bichinha. Em seguida, zurrou também, que é falando que a gente se entende. Quase que digo “é falhando que a gente se entende”. Bandos de croroquinhas-anãs trafegavam no céu límpido de um janeiro machucado pela desordem. Araras sapecadas se fingiam de mortas para não atrair a atenção. Continuava a serragem do pau da Amazônia. O povo da mata, devidamente croroquinado, aguardava a Senhora das Almas. Faltava oxigênio na nossa democracia. E assim, numa tarde estranhamente fria de um janeiro mais estranho ainda, o general Jilós Couvesfora Nada disse bem assim: “Ah! Quer saber?”

Filme: ONDE VIVEM OS MONSTROS (direção de Spike Jonze, com Catherine Keener e Mark Ruffalo). Uma viagem cultural pelos palácios do Brasil.

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