17:11Um país destruído e as instituições que dormem

por Mário Montanha Teixeira Filho

Dois anos se passaram, e os crimes diários praticados por quem deveria governar o país seguem como se nunca tivessem existido. As mortes em série, que não param de aumentar, convertidas em números frios, têm as digitais do ex-capitão feito presidente. Mas não só as dele. Os que poderiam afastá-lo e não o fazem também carregam o peso da responsabilidade pela tragédia.

As tais instituições são estranhas. Todas elas “funcionam”, nas palavras dos seus chefes, subchefes e bajuladores. Prestimosas na tarefa de chancelar o golpe que colocou Michel Temer na Presidência, em 2016, elas agora parecem afetadas por uma dormência perversa. E se recusam a atender ao que a razão implora: retirar Bolsonaro do Palácio do Planalto. Há motivos de sobra para isso. Delinquência contumaz, despreparo para o exercício do cargo, ameaças de golpe, avacalhação da República e negacionismo que mata são apenas os mais evidentes.

Não se sabe ao certo o que paralisa as doutas figuras que habitam o poder e suas vizinhanças. Desconfia-se, porém. A ascensão de Bolsonaro ao posto em que não deveria estar contou com o apoio dos donos do dinheiro, dos que mandam de fato, dos que retiraram o mandato de uma presidente eleita para impulsionar reformas que condenam milhões de pessoas ao subemprego e à miséria. Para essa elite parasitária, o fundamentalismo neoliberal de Paulo Guedes serve, como serve a ignorância triunfante do ex-capitão, a emporcalhar a política e a história com exibições de estupidez emolduradas em discursos reacionários e entreguistas. Os interesses de quem acumula riqueza e prestígio, como é notório, estão bem conservados no governo, nos parlamentos, nos quartéis e nos tribunais. Bolsonaro os representa.

O cálculo político que devastou Brasil, colocando-o nos braços do obscurantismo, é cruel e perigoso. Apresentado como ator secundário de um enredo mequetrefe, o infame aprendiz de ditador não está sozinho, mas controla uma multidão de convertidos, pronta a seguir suas ordens, bovinamente. Não é pouca coisa. A cada dia que passa, mais mortes, mais deboche, mais mentiras, mais desprezo pelos grandes problemas que o mundo enfrenta. E as instituições lá, inertes, enquanto a horda de fanáticos as encurrala, também – o reacionarismo perdeu a vergonha de outrora, “empoderou-se”, convém lembrar. O delírio não tem limites, e quer destruir tudo, até mesmo os seus cúmplices de bons modos, aqueles que, em troca do patrimônio nacional que as contrarreformas generosamente lhes concedem, participaram da construção do “mito”.

Há tempo, ainda, e instrumentos legais, vejam só!, para que os que habitam este pedaço dos tristes trópicos tenham algum alento, livrem-se do notório apologista da tortura e do ódio, do monstro que os governa. Para que isso aconteça, basta que se apliquem os códigos manuseados pelos preclaros senhores que despacham em palácios oficiais. Cumpre-lhes, para evitar o banho de sangue que se anuncia, acordar e fazer o que suas honradas funções exigem. E o que se exige é o óbvio: impeachment já! Por um país sem Bolsonaro e sem Mourão.

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5 ideias sobre “Um país destruído e as instituições que dormem

  1. Oto Lindenbrock Neto

    Perfeito. Infelizmente parece que estamos condenados ao pesadelo sem fim. Bolsonaro é o espelho de parte substancial da sociedade brasileira. Notadamente aquela elite que é civilizada e deslumbrada quando visita um país desenvolvido. Mas age da forma mais primitiva e egoísta quando está em solo pátrio.

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