DIÁRIO DA PANDEMIA
Ao clarear o dia Marilyn vem me acordar, dizer que o café está na mesa. Está com o vestido que a falecida usou no último dia. “Ela deixou eu usar” – disse Marilyn. Sou alertado por ruídos na cozinha. Encontro a esposa perdida e ela está pondo a mesa. Na sala vejo minha mãe vestindo o uniforme do Instituto Pereira Ramalho num menino magro como eu era, é o primeiro dia de aula, Bento Ribeiro, Rio de Janeiro. Viajo no tempo. As datas passam depressa. Estado Novo, Primeira República, a queda da Monarquia. Vejo pessoas de pele negra sendo usadas como escravas na extração do ouro das Minas Gerais. As naus do descobridor aportam em algum lugar da terra que seria Santa Cruz. Agora estou na Europa Medieval, o tempo corre cada vez mais rápido para trás. De repente, a viagem acaba e eu estaciono no meio de um povo irado. Reconheço cada rosto – amigos de “peladas”, colegas do ginásio, irmãos em fé nos cultos ao Senhor, pessoas até inteligentes. Todos apontam para onde está um homem quase nu e ele traz no corpo marcas de chicote. Ao lado, soldados montam guarda. Fico sabendo que o crime desse homem foi tentar salvar as pessoas de seu pior inimigo – a Ignorância. E por tal crime será sacrificado. O juiz se dirige à multidão, muitas dessas pessoas foram abençoadas por ele. O juiz pergunta se o messias deve ser solto ou justiçado. Todas as bocas se abrem numa só voz, condenando o homem que trazia nos lábios a mais perigosa arma – a Verdade. “Crucifica! Crucifica!” – ouço todos gritarem. Talvez tenha sido impressão minha, mas me pareceu que gritaram também “Comunista”. Acordo e estou em casa, Jolim dormindo no tapete, não demora e chega Cuerbo Morales, o esganado, para comer os sequilhos que minha mãe fazia.
Filme: DE REPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO (com Elizabeth Taylor, Montgomery Clift e Katharine Hepburn- direção de Joseph L. Mankiewicz, roteiro de Gore Vidal e Tennesse Williams). O drama de um menino mau que negou a vacina, mas as forças populares venceram e a cura vai chegar, quem viver verão.
“LUCY” ????????