6:20NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

(*) Debruçado no peitoril da janela como se estivesse posto na amurada do veleiro. Lá fora, o pátio está vazio de gente como o mar está vazio de peixes. Navego na direção do ontem, que isso agora virou moda. Com o futuro do país cortado pela faca da estupidez navego na direção do ontem. Olha lá se não é Cabral naquela nau, buscando o caminho para as índias. Vai com padre e tudo que é pra rezar a primeira missa. Debruçado no peitoril da janela navego no mar insano que nos afoga. Antes de saltar desta janela e me arrebentar no pátio deixo a porta aberta e a luz acesa para que outros depois de mim tomem assento à mesa.

(*) Da caravela, um polaco de Curitiba gritou bem assim: “Não estou escutando nada Mande mensagem pelo WhatsApp”. Catei a pomba, escrevi a mensagem no código de libras esterlinas. Dizia “go home”. E a ave levou no bico. Levou-nos a todos no bico (maneira de dizer) porque retornou à Portugal, certamente para fofocar tudo aos reis. No barco só havia a possibilidade de me fazer entender utilizando a linguagem das bandeiras. Fiz o melhor que pude, dei a maior bandeira e a resposta que obtive foi: “É a tua, que é mais perua”.

(*) Estou saltando da janela, já pus meia perna pra fora. É o capitão que está passando ali em baixo. Reconheci pelo andar de ema. A burka o deixa irreconhecível. Recolho a perna, amanhã eu me mato, ainda há esperança. Atrás vem o pau mandado. Todo serelepe, como se tivesse tido uma noite feliz. Cabral já estendeu sua tralha no parquinho, o padre vai começar a missa. Pedro Américo reúne a claque, vai pintar um quadro. Ainda é muito cedo para gritar independência ou morte. O tal polaco, um sujeito até bem apanhado, grita “a-lá! a-lá”, indicando a melhor moita para o descobridor levar a índia. Por ter dito o nome do profeta foi comido ali mesmo, como se fosse um bispo-sardinha.

Filme – A PERVERTIDA (diretor Tinto Brass) conta a história de uma ema viciada em croroquinhas e que acaba de morder a mão que balança o berço.

Uma ideia sobre “NELSON PADRELLA

  1. SERGIO SILVESTRE,ruim

    Dizem que um português charmoso quando desembarcou aqui nas terras de Santa Cruz,um indio tarado mirou nas suas partes inferiores e disse—mim passar mão em sua bunda”,no que ele prontamente respondeu com seu sotaque português—passass u caralho”

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