por Otto Lara Resende

Ler é casto em todo o seu silêncio. A leitura é impartilhável. Quem lê está sério, mas feliz. É frio, ler; mas com cobertor, gosto como defender-se do frio. Ler não tem pressa. É extremamente confidencial: só entre o autor e o leitor, ninguém mais. Ler é por isto um ato de confiança. Só com absoluta e estreita confiança um autor se deixa ler. E só o deixa por leitores fidedignos. Ler é extremamente honesto. Quem não tiver os requisitos não se apresente, nem se habilite. Ler tem um longo corredor, mas há paisagens ao fim e durante. Talvez o Éden. Toda leitura é um reencontro. O leitor lê-se a si mesmo, desenrola-se como uma bobina. A cada página que passa, você fica mais perto de você – e de um segredo que só a leitura sabe.