Não era craque, não era deus, não era de ouro. Era Maradona, talvez o último gênio da bola a se apresentar a várias gerações dos que amam o futebol em sua essência. De carne, osso, coração e alma, perdeu a batalha para a dependência química – e isso é só um registro triste para, mais uma vez, ressaltar o poder de destruição dessa doença incurável. Galvão Bueno, falou isso – e corretamente, há pouco na TV Globo. Casagrande chorou, mas como uma dependente em recuperação errou ao lamentar que ninguém tenha feito nada para tirar disso o maior jogador da história do futebol argentino. Quantos não tentaram? Ele mesmo, quantas vezes não tentou? Para quem esteve dentro do inferno, como o ex-jogador e agora comentarista, seria bom lembrar o quanto é difícil ‘ouvir’ quando se está na montanha russa entorpecida e alucinada. Para nós, o que fica mesmo é a gratidão por tê-lo visto atuar, mesmo que numa telinha pequena, porque a bola ao chegar nele sabia de quem se tratava – e sempre o liberou para fazer com aquela canhota o que a intuição dos gênios comanda. Chamar Maradona de craque, como fazem os idiotas do objetividade, é menosprezar sua arte. Era da mesma estirpe, em todos os sentidos, de Mané Garrincha, que morreu mais cedo, aos 49, vítima do alcoolismo. As cenas abaixo mostram que, se necessário, Maradona nem precisaria disputar uma partida para encantar. Quem teve o privilégio de vê-lo no aquecimento em campo, no controle do seu grande amor, a bola, nunca esqueceu. No jogo, era mais. Como já disseram para o deus do futebol que ainda está vivo, se não ficasse feio, os adversários o aplaudiriam depois de algum gol, passe, drible, matada no bico da chuteira. Maradona conseguiu a eternidade. Amém.