de Jamil Snege
Porque o povo é bobo
você mostra a cara lambida,
o dente de ouro, a promessa
embutida no sorriso fingido
– ganha estourado.
Porque o povo é bobo
você fala pão, escola, saúde
e vai pra Suíça, rouba, falsifica
– e tá eleito de novo.
Porque o povo é bobo
você compra terno de casimira,
perfume francês, ouro, dólar,
apartamento em Miami – e pá
só dá você na urna.
Porque o povo é bobo
você afaga a chaga dele,
abraça o povo velho no comício,
ergue no colo o povo novo,
beija o povo bobo
– o mais votado em todo estado.
Porque o povo é bobo
você faz conchavo, trai o partido,
se compõe com o inimigo,
livra com o crápula – e enrola o povo que de bobo ainda vota.
Mas um dia o povo bobo,
olho torto,
caco cheio, aperreado,
despejado, desnutrido, escabreado,
pega e invoca com tua cara lambida,
pega e arranca teu dente de ouro,
pega e enfia uma faca na barriga
– eta povão besta –
lá vai você pra dentro da URNA.