por Yuri Vasconcelos Silva
Artistas almejam o reconhecimento de sua obra nas melhores rodas de discussão intelectual. Arquitetos também. Prêmios, publicações, convites para palestras e entrevistas. Não muito diferente de uma garçonete que deseja ser atriz. Este desejo alcança grandes expectativas no momento de transição entre a saída da faculdade e o início da carreira. Alguns poucos talentosos de nascença começam bem, mas parecem gastar todo combustível nos primeiros anos de trabalho, e o que parecia ser um bem sucedido lançamento acaba minguando até que o foguete despenca em algum lugar desconhecido no meio do oceano da indiferença. A maioria não consegue nem o voo de um aviãozinho de papel. Outros, não dão a menor bola para isso. Estes últimos geralmente têm uma vida mais satisfatória.
A certeza que tenho é que todo arquiteto vai projetar um banheiro em algum momento de sua trajetória rumo ao Pritzker – o principal prêmio da arquitetura mundial, criado pela família proprietária da rede de hotéis Hyatt. Tenho dúvidas, no entanto, de que os arquitetos serão bem sucedidos na tarefa de projetar um banheiro eficiente. Descobri isso há pouco tempo, quando tive que limpar um banheiro projetado por mim, em minha casa. Fui, de forma inequívoca, castigado pela minha ingenuidade criativa.
Revesti boa parte das paredes com belas pastilhas brancas. Nada sofisticado como uma catedral bizantina. Apenas o simples. Gostava da textura em mosaico. Só que junto com as pequenas peças de 2 x 2 cm, há rejuntes. Esta miserável massa que acolhe colônias miceliais fica negra com a presença persistente dos fungos, que se aderem e nunca mais saem daquele ótimo lugar úmido e morno, similar ao interior de uma vala dentro da floresta tropical. Cloro, saponáceos, uma velha escovinha de dentes. Nada obtém sucesso na retirada destes resistentes seres esporulados. As juntas criam um degradê deprimente, que escurecem ao se aproximar do piso. Uma peça monolítica era o que eu devia ter especificado no projeto. Sem rejuntes. Errei.
Mas o pior estava no piso, no estranho interstício espacial entre a bacia sanitária e o bidê. O contorno de contato entre as louças e o plano do piso geram uma traçado curvilíneo impossível de ser limpo de forma satisfatória. O rodo não entra nesta área, pois o arquiteto jamais imaginou consultar uma pessoa que limpe banheiros. Se tivesse feito isso, teria descoberto que a civilidade e boa assepsia requer uma distância mínima, entre vasos e parede, de uma passada livre do rodo. Aliás, esta deveria ser a medida padrão para qualquer área molhada, como banheiros e vestiários, e merecia até um nome, a ser ensinado nas faculdades de arquitetura e zeladoria – a Bitola Rodo. Talvez seja por isso que estes locais, onde uma outra dimensão espacial parece existir, são os preferidos por aranhas ou baratas. Eles sabem que ali teremos que encará-los de perto para exterminá-los, sem uso de vassouras ou rodos. No chinelo, poucos têm a audácia.
Sensacional! Texto bonito. E que funciona.
Que texto ótimo ! Todo arquiteto deveria ler ! 👏🏼👏🏼👏🏼