8:37NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

(*) Apertam a campainha. Vou ver quem é. Pelo olho mágico surpreendo-me com uma mulher possivelmente oriunda do Irã ou de algum Emirado. Visto minha máscara e abro a porta.
– Sim? – eu digo.
Ela responde: “Bom dia”.
Pela voz reconheci logo vi que era a vizinha que tem o bebê chorão, que muitas vezes me deixou confuso, levando-me erroneamente a crer que se criavam cabritos no condomínio. Inclusive, na época, tive a indelicadeza de oferecer minha churrasqueira para quando sacrificassem o animal. Disse-me que estava à cata de jornais para colocar no chão à guisa de mictório para o cachorro.
Eu disse:
– Sinto não poder atendê-la. Também eu tenho cachorro, o Jolim, ele usa muito jornal; não para ler, todavia, posto que é analfabeto.
– Mas, o senhor não tem cachorro – ela disse.
Apontei para o sofá:
– E o que é aquilo no sofá?
– Um cachorro inflável – disse a biltra. “Estou pasma que se fabrique essas coisas”.
Como não se decidia a ir-se, eu disse:
– Pois é.
– Mas ele não precisa de jornais para mijar, senhor.
Respondi:
– Vem ver.
Fi-la entrar, já que estava de burka e não representava perigo de contágio. Mostrei a ela todos os jornais espalhados pela sala e todos eles mijados.
Ela olhou para mim e disse:
– O senhor é um homem doente.

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