Do Congresso em Foco, em reportagem de Lauriberto Pompeu
A disputa interna entre a ala de apoiadores de Jair Bolsonaro e os aliados do presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, se reflete nas eleições municipais de 2020. Em capitais como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Fortaleza (CE), os candidatos do PSL não contam com o apoio da ala bolsonarista do partido e, além disso, sofrem forte oposição de colegas de legenda e do presidente da República.
Um dos principais casos é o da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que concorre à prefeitura de São Paulo. Ela sofre fortes críticas de deputados do partido ligados ao governo como o terceiro filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).
Em um vídeo da campanha eleitoral, a ex-líder do governo no Congresso comenta sobre o afastamento entre ela e Jair Bolsonaro. A congressista acusa o presidente de proteger amigos e família de investigações que apuram corrupção.
Bolsonaro se desfiliou há um ano do PSL, sigla pela qual foi eleito presidente. A saída aconteceu após uma série de atritos e disputas de influência sobre o partido entre o grupo do presidente e o de Bivar.
Na capital paulista, Bolsonaro tem demonstrado apoio a Celso Russomanno (Republicanos), que começou liderando as pesquisas e agora está em segundo lugar, atrás do atual prefeito Bruno Covas (PSDB). Já Joice está no pelotão de baixo das pesquisas, com intenções de votos de 5% ou menos.
O presidente estadual do PSL de São Paulo, Júnior Bozzella, disse ao Congresso em Foco que o partido ainda não começou a dar prosseguimento em nenhum caso específico de infidelidade partidária no Estado. “Por enquanto só teve um comunicado da estadual (íntegra) referente a possíveis punições sobre qualquer tipo de apoio a candidatura de outra legenda”, declarou.
Na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro, o PSL lançou o deputado e ex-nadador olímpico Luiz Lima. Apesar disso, há um movimento da ala bolsonarista do PSL para apoiar a reeleição de Marcelo Crivella (Republicanos). Mesmo sendo proibida pelo partido de participar de um vídeo com Crivella, a deputada Carla Zambelli decidiu não cumprir a determinação do PSL e fez uma live com o candidato do Republicanos na segunda-feira (26). A deputada nega cometer infidelidade partidária e disse que também fará uma live com Luiz Lima.
O Republicanos, partido de Crivella, filiou neste ano o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (RJ). Carlos e a mãe Rogéria Bolsonaro, ex-mulher de Jair Bolsonaro, concorrem à Câmara Municipal pelo Republicanos.
Assim como Joice, Luiz Lima aparece com poucas intenções de voto, pontuando menos de 5%. Crivella também não está em situação confortável e pode ficar fora do segundo turno. O atual prefeito está empatado em segundo lugar na margem de erro com Benedita da Silva (PT) e Martha Rocha (PDT). Eduardo Paes (DEM) lidera isolado.
O antagonismo entre as duas alas do PSL também se repete em outras capitais. Bolsonaro disse na semana passada em conversas com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada que “um inimigo declarado” dele em Curitiba usa a sua imagem sem permissão.
“Alguns, inclusive, inimigos declarados meu, usando minha fotografia, como um candidato a prefeito de Curitiba fazendo isso aí… É inimigo declarado e agora, depois que é candidato, está usando minha foto”.
Somente dois candidatos em Curitiba tentam associar a imagem a Jair Bolsonaro. São eles o ex-deputado federal e atual deputado estadual Fernando Francischini (PSL) e a psicóloga Marisa Lobo (Avante). Na capital paranaense, o atual prefeito Rafael Greca (DEM) lidera isolado nas pesquisas.
Fernando Francischini, um dos primeiros entusiastas na Câmara da campanha de Bolsonaro a Presidência, se afastou do governo. Em entrevista à rádio Band News, o candidato negou desavenças com o presidente.
“Isso é comum em período eleitoral, essa guerra desses vídeos. Eu e o Felipe Francischini [seu filho e líder do PSL na Câmara] ainda somos aliados [de Bolsonaro]. Felipe ainda é presidente da CCJ em Brasília e eu aqui, com os mesmos princípios e valores em defesa da família, da liberdade econômica”.
Se em relação a Curitiba, Bolsonaro não citou diretamente o alvo da crítica, na disputa em Fortaleza, ele chegou a mencionar o deputado federal Heitor Freire (PSL-CE), candidato a prefeito da cidade.
“A gente lamenta que essas pessoas que estavam comigo, racharam comigo, estejam fazendo isso. Em Pacatuba [interior do Ceará], não conheço o candidato, mas está aqui um cidadão que rompeu com a gente e que agora faz campanha usando minha imagem no santinho. É muita cara de pau de pau desse deputado federal, Heitor Freire, fazer um santinho usando a minha fotografia”, disse durante live no Facebook no dia 7 de outubro.
O material de campanha a que Bolsonaro se referiu era o de André Holanda (PSL), candidato a prefeito de Pacatuba (CE). Em entrevista à rádio O Povo/CBN, Heitor Freire negou que tenha pedido para aparecer na imagem ao lado de Holanda e Bolsonaro e afirmou que o candidato do PSL foi mal assessorado ao fazer isso.
Na mesma live em que criticou Heitor Freire, Bolsonaro declarou apoio ao deputado federal Capitão Wagner (Pros), que lidera as pesquisas de intenção de voto na capital cearense. “Em Fortaleza tem um capitão lá. Se Deus quiser vai dar certo, já está na frente”, disse o presidente da República.
Deputados bolsonaristas do PSL, como Zambelli e Carlos Jordy (PSL-RJ), também divulgaram a candidatura de Wagner nas redes sociais.