DIÁRIO DA PANDEMIA

(*) Não aguento mais ser Deus. A coisa mais chata que existe é ficar na obrigação de cobrir as apostas daquele menino, como é mesmo o nome dele? Dino, Edino, Dagoberto, uma coisa assim. Lembrei: Edir. Ele manda os caras pedirem pra mim o que quiserem – bicicleta de quatro rodas, perdão, de quatro marchas, bola de futebol quadrada para jogar na terra plana, um jogo de croroquinhas completo, e o inocente aqui tem que dar, né? Até outro dia, só quem dava era o Francisco de Assisi; ele dava, mas recebia, e isso é uma coisa muito gentil, digo você dar e receber. Mas esse menino me tira do sério: não ganho nada e tenho que ficar dando pra todo mundo. Só no meu, só no meu. De modo que joguei a toalha e me mandei aqui para os quintos.

(*) A gente não deve ficar ouvindo conversa alheia. Mas, não dá pra deixar de ouvir o papo do vizinho. Essa noite escutei a mulher dizendo que coisa esquisita. Maldei, é claro. Estaria a biltra se referindo a que coisa esquisita, assim, no meio da noite, os dois na cama? Com o que teria a mulher se esquisitado? Não esperei o dia clarear. Quando ouvi que mexiam em talheres, interfonei. Ela quem atendeu. Perguntei sobre a coisa esquisita. Ela foi gentil. Inclusive, mostrou interesse. Me disse: “O senhor não tem mais o que fazer?”

(*) A cada dia a Medicina Caseira descobre o tratamento para os males que nos afligem. Agora, a moda é chá de orégano. Cura tudo. Fumei muito orégano na minha juventude.

PARA NUNCA ESQUECER LUIZ GAMA: “Não tolero o magistrado, que do brio descuidado vende a lei, trai a Justiça – faz a todos injustiça. Com rigor  deprime o pobre, presta abrigo ao rico, ao nobre, e só acha horrendo o crime no mendigo, que deprime”. (Luiz Gama – 1830-1882). Observação: O poeta nunca chegou a conhecer o magistrado Marco Aurélio de Mello