16:14Como é que era o Brasil da Folha Seca?

por Roberto Salim

Naqueles tempos, tinha o Éder Jofre. Tinha a Maria Esther Bueno. Tinha o Adhemar Ferreira da Silva. Tinha um gênio do tênis de mesa chamado Biriba. Tinha uma nova capital sendo construída. Tinha uma esperança no ar. Tinha um menino fantástico surgindo na Vila Belmiro

Acordei nesta terça-feira pensando: hoje tem o jogo do Brasil contra o Peru, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. E de cara vi que a partida não vai passar na TV. Não houve acordo financeiro. Aos poucos fui caindo na realidade: eu não iria ver mesmo o jogo. A Seleção não tem Pelé, não tem Mané Garrincha, não tem Gilmar, não tem Djalma, não tem Bellini, não tem Nílton Santos. E… não tem o Didi.

Na Seleção de hoje, cadê a alma?

Mudou o menino de 5 anos ou mudou o futebol e o país?

Mudou tudo.

Naqueles tempos, tinha o Éder Jofre.

Tinha a Maria Esther Bueno.

Tinha o Adhemar Ferreira da Silva.

Tinha um gênio do tênis de mesa chamado Biriba.

Tinha uma nova capital sendo construída.

Tinha uma esperança no ar.

Tinha um menino fantástico surgindo na Vila Belmiro.

Havia os territórios.

Havia Guaporé ou não era Guaporé?

A Petrobrás era uma jovenzinha promissora.

A Siderúrgica de Volta Redonda era um orgulho nacional.

O Brasil vinha da era nacionalista de Getúlio Vargas.

Juscelino prometia 50 anos em 5.

E a Seleção, treinada por Oswaldo Brandão, ia buscar a classificação para a Copa do Mundo contra os peruanos no Maracanã. Com a desistência da Venezuela, o Grupo 3 só tinha Peru e Brasil na disputa pela vaga.

A escalação que entrou no Maracanã, tomado por 120 mil torcedores: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Zózimo e Nílton Santos; Roberto Belangero e Didi; Joel, Evaristo, Índio e Garrincha.

O dono do time era Waldir Pereira.

O Didi.

Ele quase não se tornou jogador de futebol, porque quando menino levou uma entrada criminosa numa partida em sua cidade – Campos dos Goytacazes ‒, segundo o historiador Péris Ribeiro, e quase ficou inutilizado para o futebol. Não fossem os remédios de sua vovó, que era indígena, e vá saber…

Foi por ter ficado com um probleminha em um dos pés que Didi criou jeito novo de bater na bola.

O mestre inventou a Folha Seca.

E foi com uma legítima batida dessas, em cobrança de falta, que o Brasil fez 1 a 0 (em Lima havia sido 1 a 1) e carimbou o passaporte para a Copa da Suécia. O gol foi logo aos 11 minutos: como uma folha seca, a bola, depois de subir, caiu mansamente na meta peruana.

Era abril de 1957.

A sequência desta história, acho que todo mundo sabe.

E eu fico pensando: se a gente tivesse pelo menos um Didi no time do Tite, já iria ser diferente.

Eu já iria até dar um jeito de ver o jogo no computador.

Será que vai passar no computador? 

Será?

*Publicado no site Ultrajano

Uma ideia sobre “Como é que era o Brasil da Folha Seca?

  1. juca

    O menino Neymar vai fazer 29 anos em fevereiro. Logo tem 30, e ainda não deu motivo para ser chamado de craque

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