por Patrícia Iunovich, uma cena curitibana:
Em meio a dezenas de pedintes que se multiplicam pelas ruas, alguns educados, outros nem tanto (nunca se sabe como a fome ou oportunismo pode trazer o de pior que existe em alguém), surge Carlos. Assim ele se nomina e pede licença e pergunta: “Tem latinha aí?” Respondemos: “Não!”. Ele ri e diz: “Precisa beber de latinha”. Rapidamente retira de um saco plástico dezenas de latas e começa rapidamente a criar um chaleira e uma mini Brahma – e alerta: “É para você beber menos”. A noite ganha colorido. Carlos é o rosto de quem não perdeu a esperança num momento tão crítico da vida humana. Não pede nada. Apenas observa nossa reação e agradece por nós sermos acolhedores. Minutos antes, uma mulher o teria afastado dizendo: “Sai daqui! Não gosto de pobre!”. E nós: “Você é muito bem-vindo. Alegrou ainda mais a nossa noite”. Ele ri. Pergunta: “Conhecem Porto Alegre?” Respondemos que sim – e ele diz: “Lá o lanche é o dobro daqui”. Catamos os trocados do bolso, os últimos que sobraram depois de quatro ou cinco vendedores ambulantes vendendo ou pedindo dinheiro. Acabou o trocado. Sobrou um montão de alegria.