por Luis Fernando Verissimo
É o jovem que gosta de aglomeração e para o qual o suicídio coletivo é só mais um programa
Sabe lemingue? É aquele bicho que migra em bandos na direção do mar atrás de um líder, qualquer líder, e, quando o líder se atira no mar, se atira junto e morre. Ninguém entende bem essa propensão do lemingue ao suicídio coletivo, mas está no seu DNA, impossível discuti-la. O lemingue é descrito como um pequeno roedor de cauda curta e cor amarelada, mas essa é sua descrição zoológica. Para nosso efeito, ele é uma pessoa jovem que gosta de aglomeração e para a qual o suicídio coletivo é apenas mais um programa com a turma.
Me lembrei de um episódio contado pelo Mino Carta. Num cinema do Bixiga, em São Paulo , passa um documentário sobre a vida animal e seus horrores, inclusive cenas sangrentas de pobres gazelas sendo trituradas por bichos mais ferozes do que elas. É quando se ouve uma voz com indisfarçável sotaque do Bixiga, de alguém que provavelmente entrou num cinema pela primeira vez na vida e diz “Que mentalidade!”. É o comentário que merece a estranha compulsão dos lemingues. Que mentalidade!
2020 vai ser lembrado como o ano em que se revelou a vocação para lemingue de toda uma geração. Uma insuspeitada vontade de seguir o contemporâneo que passar por perto com claros sinais de que vai se matar e de ir atrás dele com todo o bando para morrer também. O que mais impressiona nos bandos que enchem as praias a caminho do mar e as calçadas dos bares é sua alegria. Sem máscaras e sem distância um do outro.
Os lemingues estão nas ruas. Se há mesmo uma crise internacional, uma pandemia viral que grassa no planeta sem controle à vista, o problema não é deles. Afinal, que crise internacional é essa em que o presidente de um dos países supostamente mais afetados por ela não acredita nas medidas recomendadas para detê-la? Bolsonaro & Filhos se comportam como se ele também fosse um lemingue, jovem e sem compromisso com a realidade. Que mentalidade!