por Thea Tavares
Passado mais de meio ano dessa pandemia dos infernos, o ser humano, esse troço mais resistente e criativo que já inventaram, achou um jeito de se habituar com o isolamento social. Criou rotinas que, apesar das constantes atribulações do tal de home office, praticamente se calcificam dentro dos seus moletons surrados, esburacados e dos pijamas. Pijama, aliás, que conhece bem os caminhos domésticos e sabe ir sozinho para o sofá da sala, para a cozinha, para o escritório… A menos que rolem lives e reuniões de trabalho por vídeochamada, que é quando ele descansa (ou perto disso). Pelo menos, a parte de cima dele! Nessas horas, a gente imita apresentador de telejornal, com paletó engomado da cintura pra cima, maquiagem e roupa de domingo para aparecer bem no enquadramento, e com bermuda, samba-canção ou a calça do pijama, da cintura para baixo. As chamadas de vídeo, a bem da verdade, e até os áudios nas mensagens, que antes eram abominados, serviram pra aproximar as pessoas, levando vozes e rostos que ajudam a diminuir o sofrimento com o afastamento e a falta de contato. Até mesmo os contatos que a gente sempre desprezou ou sequer deu valor passaram a fazer falta.
Mas as etiquetas da interação social remota, nesse isolamento, precisam ser percebidas, assimiladas e bastante respeitadas para a gente não se deixar enveredar por tretas desnecessárias, disseminar desavenças que permanecerão depois da pandemia e para não colocar em risco as seletas amizades conquistadas ao longo de anos e baldes de paciência. Uma dessas etiquetas passa por mapear as preferências e horários das novelas das amigas (e amigos, sim, assumam!) para não se desembestar em querer sanar as próprias carências por conversa mole justo nesse momento sacrossantificado. Algumas tramas já deixaram de ser transmitidas, mas o cuidado é importante porque, logo, logo, as pessoas se engatam em uma nova audiência cativa. Daí, você já está esperto.
Aprendi a cuidar o horário do “Candinho” e do “Zé dos Porco”, bem como o da “Griselda” nos canais abertos. Mas também o das reprises no canal da TV a cabo que puxa as novelas lá do fundo do baú. Uma das minhas amigas segurava até a respiração para ver “O Clone”. Pensei em fazer chamada de vídeo pra medir a coloração dela no tempo de duração do capítulo da novela: se verde, roxa ou o quê? Detalhe: tenho de confessar que paguei aquele estrondoso micão quando me falaram do Candinho e me veio à cabeça (contaminada pela política) um certo ex-secretário de Segurança do estado, muito afeito também à dramaturgia. Audiência para lá de bizarra seria essa. Nem hecatombe justificaria tamanho desatino!
Um dos amigos mais “bolcheviques” que conheço despertou há pouco para os encantos dos doramas coreanos. Ele se derrete, maratonando as séries mais água-com-açúcar e mela-cueca da grade de produções asiáticas. Trocamos dicas e figurinhas direto sobre esse entretenimento, o que apontou outro rumo para nossa relação, muito truncada por vezes pelos embates das discussões políticas ou futebolísticas.
Quanto a mim, aviso que não tem segredo nenhum. É só a galera não descuidar dos horários e da tabela de jogos do campeonato brasileiro, da Libertadores e da Copa do Brasil, que já está de bom tamanho. Até mando os links para quem se interessar. Não dou conta tanto assim das partidas dos campeonatos e ligas do futebol europeu, mas as eliminatórias da Copa do Mundo são imperdíveis! Se bem que ouvi dizer que vai recomeçar o campeonato italiano. Ando despetalando uma florzinha de camomila para jogar na sorte a decisão se vejo ou não essas partidas. Meio pacote de chá já foi desperdiçado nessa brincadeira.
A gente se reinventa para, no final, ficarmos parecidos com nossos avós. É questão de sobrevivência, mas também de juízo e de respeito! E vai ter de ser assim, nessa pegada resiliente, até que seja 100% seguro fazer diferente, minimamente parecido com o jeito de como as coisas funcionavam antes. Mesmo que as pressões de alguns segmentos forcem o retorno das torcidas aos estádios, como querem dirigentes de um certo time desfalcado de metade dos seus titulares pela Covid-19, vou continuar sentadinha no meu sofá, vendo a bola rolar em campo. E antenada para os horários, à noite, em que puder fofocar, prosear, atualizar o papo com as amigas e os amigos noveleiros, sem entrar em choque com os Candinhos, as Griseldas e as Teresas Cristinas da telinha deles. Espera aí, que estava me esquecendo de listar quem voltou a ver novela à tarde e aquele seriadinho “aborrecente” do entardecer. Nesses casos, faço questão de ligar para falar de trabalho. Já perdi minha carona para o céu mesmo… E faz tempo! Nem dá pra culpar a pandemia.
Pois é,nessa pandemia notei que colocar uma pitada de chocolate no café,melhora seu sabor,que nosso ‘presidente” está inchado ,talvez por ingerir comprimidos de cloroquina e de sobremesa corticoides.