DIÁRIO DA PANDEMIA

(*) LISTA DOS ITENS: Vendo escova dental com pouco uso. Pertenceu ao meu pai que nos deixou há duas semanas. Pente de plástico com praticamente todos os dentes. Guardei-o como lembrança de antigos cabelos. Um sutiã vermelho com renda, que mantenho desde que eu tinha 17 anos, e dele me desfaço com sentimento. Um ex-amigo – alto, moreno, acima do peso. Era confiável até o dia que deixou de ser.  Um exemplar da antiga Constituição do Brasil, promulgada a 5 de abril de 1988. Peça de museu.

(*) Precisamos refletir sobre a situação do país. Mas, o que é um momento de reflexão? É quando você não tem nada em casa para comer, está roendo beira de penico, sem emprego, sem futuro, um dente doendo. Aí, você faz o seguinte: Vai para o meio do campo, procura uma pedra, sobe nela, senta na pedra e pega de refletir. Adiantar não adianta nada. Mas pelo menos você fez alguma coisa.

(*) Perguntar não ofélia. Face ao extorsivo aumento no preço dos gêneros alimentícios cabe-me perguntar se permanece vigendo a encíclica presidencial que sugere a fazeção de cocô dia sim, dia não.

POESIA ATRIBUÍDA A SYLVIO BACK: “Fell me”.