DIÁRIO DA PANDEMIA
Não podiam ter me dado um presente melhor. Foi o que pensei quando, ao abrir a porta, deparei com um embrulho e nele o número do meu apartamento.
Foi abrir o embrulho e meus olhos se encheram de amapolas, feliz que fiquei com o regalo. Uma bela e barulhenta vuvuzela. Agora, sim! Romperia os silêncios das madrugadas, interromperia coitos, levaria pânico aos praticantes de ofurismo. Não sei se meu ato configuraria crime ou estaria situado no terreno da sacanagem. Estou mais inclinado a pensar que levariam na brincadeira. Deixa estar.
A estreia seria naquela noite mesmo. Acamei-me cedo para poder acordar em horas impróprias, quando todos estão dormindo ou praticando pecado. Botei o despertador para as 2:15, me levantei, pé ante pé, botei o berrante na boca e soprei com toda a força. E a geringonça explodiu na minha cara.
Estou na copa apreciando meus cristais numa tarde estranhamente quente de fim de inverno. De repente, adentra meus ouvidos um impropério digno daqueles do cercadinho.
– Vadia!
Imediatamente a resposta não se fez esperar, agora na versão de voz de mulher:
– Viado!
Pronto, pensei, já estão os vizinhos da frente a se atracar. Admito que me passou pela cabeça pegar uma vassoura e ir apartar o entrevero. Não fui por causa da peste.
Só à noite, na hora do Jornal Nacional, fiquei sabendo o que houve e quase morri de inveja. Os vizinhos tinham inventado um jogo onde um dizia uma palavra e o outro tinha um tempo para falar outra com as mesmas letras. Por que não fui eu a ter essa ideia?
Com o país andando para trás do jeito que está sendo, logo chegaremos a 1889. Nessa ocasião, a Princesa Isabel recebeu cartas de Portugal e declarou a República, enquanto o marido, Conde d’Eu encontrava-se ausente fazendo o que sabia fazer melhor. Imediatamente foi criada a primeira bandeira do Brasil. Foi aí que aconteceu um troço premonitório. A primeira bandeira da República ficou igualzinha à americana, diferente apenas na cor. Parece que já sabiam, naqueles tempos de antanho.
MOMENTOS DA HISTÓRIA DE CURITIBA: “Prefere na frente ou atrás?” – frase ouvida há muitos anos passados, quando um jovem casal, cuja identidade a História não registrou, entrou no Cine Avenida à procura de lugares para se acomodarem. O filme acho que era “O Pagador de Promessas”. Ou não.
Velhote fuzarqueiro rsrsrsrsr