por Ayrton Baptista Junior, o Tusquinha, publicado no Bem Paraná
O filme se chama ‘Os Galhos do Casamento’. Não vou contar o final porque não vi. Sei apenas que os rolos existem e que repousam em um sítio no interior de Santa Catarina, o sítio do produtor Florisbal Lopes, catarinense de Mafra, que ousou fazer cinema em Curitiba nos anos 1970. As latas da película contêm parte da primeira linha do teatro curitibano: Lala Schneider, José Maria Santos, Roberto Menghini, Gilda Elisa, Danilo Avelleda e Airton Müller. É por conta destes grandes nomes que a obra do Florisbal precisa de sessão extra por aqui.
Produzido em 1978, com cenas rodadas em Morretes e Antonina, estes galhos integraram um fenômeno popularíssimo, as pornochanchadas, de atraentes pitadas de erotismo. Um clichê do gênero era a cena de adultério: ao ser flagrada com o outro na cama, a mulher imediatamente puxa o lençol até os ombros. Não viu? Alguns exemplares têm exibição frequente no Canal Brasil. E saiba que houve muita criatividade na Boca do Lixo, a área paulistana onde o gênero floresceu e fervilhou.
Florisbal Lopes, o produtor de ‘Os Galhos do Casamento’, entregou a direção para Sergio Segall, respeitado no mercado de filmes publicitários. E, para atrair mais público, vieram de São Paulo três beldades: Aldine Müller, Helena Ramos e Zélia Martins, atriz que se apresentava em programas de televisão como “a melhor mulher do Brasil”. Aldine, Helena e Zélia eram de parar o trânsito na cantada esquina da Ipiranga com a São João. Era na Ipiranga (e ainda é) o cine Marabá, a sala preferida dos produtores, todos ávidos por aquele público que pagava pouco mais do que o valor de algumas carteiras de cigarro para ver “quase tudo”. O “tudo” mesmo, o sexo explícito, só existiu no Brasil a partir de 1982.
Mesmo com Aldine, Helena e Zélia nos cartazes, ‘Os Galhos do Casamento’ não conseguiu a glória de ser exibido no Marabá, mas estreou em outros quatro cinemas paulistanos e em seis salas do Rio de Janeiro, segundo dados da Cinemateca Brasileira. Quem pagou ingresso viu Aldine Müller na pele de Rosinha, cortesã que decide tirar da lista todos os homens casados e que é convencida, pelas mulheres, a se casar. Lala Schneider, que já era em 1978 a primeira dama do teatro paranaense, interpretou Mercedes, a mãe da bela e cobiçada noiva. Mercedes via na mobilização pelo casamento da filha a chance de melhorar de vida. Enfim, um galho…
Quando o filme passou muita gente foi escondida aos cinemas. Mulher que atuava nas pornochanchadas ficava “mal falada”. Mulher que ia ao cinema ver pornochanchada também. Aos homens a sessão era permitida, desde que esposas e namoradas não fossem comunicadas.
Mais de quarenta anos depois, é possível ver ‘Os Galhos do Casamento’ sem medo da opinião alheia. Enfim, sem vergonha.