DIÁRIO DA PANDEMIA
(*) Fico imaginando como será o mundo lá fora, quando eu puder sair a bater perna na rua. Os amigos do Café não vou encontrar mais. As senhoras que comigo dividiam sequilhos e beijinhos passaram todas para o lado de lá. Talvez não me reste outro caminho se não comprar um ofurô. Nisso já vinha pensando desde antes da friaca. E farei como o capitão: tomarei meus banhos acompanhado. Todas aquelas mulheres que comigo dividiram doces e amargos estarão no mesmo banho. Se não aguadas com bruxas Corona, aquelas que dão banho de alegria, mas presenciais na minha memória.
(*) Rex deu de bancar o engraçadinho. Troca palavras nas frases e acha que está sendo ótimo. Coitado! Se bem que até curti essa que ele disse: “Água morna em perna dura vai ser bom pra essa fratura”. Nem sei se é dele. É uma frase tão sei lá que deve ter copiado de mim. Não vou passar pano pra cachorro.
(*) Tenho aproveitado o isolamento social para me dedicar à agricultura. Sementes de tomate, de abóbora, caroços de frutas, jogo tudo no quintal do vizinho, que do meu apartamento alcanço com facilidade. Estou fazendo uma ação boa, provendo o amigo de futuras hortaliças e árvores frutíferas – abacateiros, pinheiros, pessegueiros. Alguma coisa haverá de brotar. Joguei também alguns pares de sapatos e um tênis roto, quem sabe adubam a terra. Um dia, quero bater à porta do dono dessa casa e comprar uma cabeça de alface que eu mesmo plantei.
(Durante o regime ditatorial, um oficial aviador sobrevoava a Amazônia, despejando sacos de sementes. Pensava quiçá em nautas perdidos, que poderiam sobreviver alimentando-se dos legumes inventados nos seus delírios generais).
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