de Ticiana Vasconcelos Silva
O sol e a lua
Fenômenos imagéticos
Em minh’alma
Que se desprende
No éter
Que consome estrelas
Poesia suja
Olhos coloridos
Coração partido
E um só sentido:
O sentimento
De que sou só
Na multidão enganada
Que sou muitas
Quando estou separada
Da vontade de ir
Ao apogeu da luz
Que não se reduz
Ao som da liberdade
É a vida aos prantos
É a sina ficando
Cada vez mais inteira
Na minha sina
De não saber
Na minha retina
De reter
Tudo
O todo na parábola
De um sertanejo apaixonado
O vento calado
O beijo pensado
Sem pensar em amor
Pois o amor é contado
Como a única sabedoria
E eu não sei
O tenho dito
Diariamente na mente
O grito foi calado
E ele ficou espantado
Com a tímida razão
De quem soube amar
E eu sei
O tenho dito
E permaneço a olhar
Sem falar
Que um dia eu hei
De criar sonhos
Para as tristes
Memórias do adeus
Se um Deus é grande
Eu sou a metade
De mim que vai
Quando a outra
Se condena
E fico inteira
Uma lua cheia amarela
Um sol que cai à tarde
E a verdade se revelou
Como a fórmula da criação
Como uma sinistra canção
De Beethoven
Quem ouve, sente
A ausência da poesia
Em seu dia
Mas quem escreve, sabe
Que a rima nunca é certa
É coberta de escuridão
Então vamos
Nos perder
Este é o chamado
Pois o coração alado
Sabe a direção
Quando não se tem
Ninguém ao lado
Tudo é invenção
Inventa-se o diálogo
Inventa-se a paródia
Inventa-se a lógica
Inventa-se a ilusão
Pois na vida de um poeta
Nada é em vão
No entanto todos sabem
Para onde vão
E eu sei para onde não
Seguir
Sigo o som da madrugada
E ela me fala:
Vai ser livre
Porque se sou triste
É porque o dia
Escondeu a minha intuição
E se sou alegre
É porque venci a ambição
De ser algo além de mim
Devo a mim o dever
De apenas ser
Memória, história
E um pouco de prazer
Quando eu for
A minha glória
Será quando eu pertencer
A uma multidão que vai
Como o gado
Aos pequenos momentos
De lazer
Nunca terei descanso
Apenas canto
E isso é meu viver
Este é um poema sem final
Que não para
Enquanto houver
O que se dizer
E eu digo: nada
Nada é tudo o que sei fazer
Porque se me contento
Com o que faço
Perdi a lógica de ser
Um nada, um sol poente
E a lua cheia que hoje
Irá nascer