DIÁRIO DA PANDEMIA

• Comunico-me com os amigos lá de fora utilizando os pombos correios. Eram pombos comuns, mas logo aprenderam a ser entregadores de correspondência. O segredo são os gaviões peregrinos que passei a criar desde que a síndica veio aqui à cata de animais selvagens. Solto a pomba com a mensagem, conto até três e libero o gavião. A imbecil se apavora e entra pela primeira janela que encontra aberta. Quem ler a mensagem que ela leva pode responder de volta ou não. Quando o cara solta a rola, ela vem correndo (correndo é maneira de dizer) para cá, onde tem milho, poleiro e a enganosa segurança do lar.

• É uma inverdade dizer que o Governo não está buscando na Ciência um caminho para combater a pandemia. Desde que ficou estabelecido que o Achismo é uma Ciência, é esse o caminho que está sendo trilhado pelo Planalto. O Achismo estabelece, na base do “eu acho que”, que todas as possibilidades são passíveis de ser aplicadas, desde injeção de cloroquina na bunda a comprimidos de supositório, que o que não mata, engorda. Sem falar no ozônio no forévis. Se a Organização Mundial da Saúde dita suas regras baseada em estudos científicos, também nós, moradores do hospício, bebemos da mesma água. O que é bom pra asma é bom para a Peste na medida que o que é bom para o Brasil é babar nos ovos dos irmãos do Norte. E assim vamos remando o barco pelo rio Stix tendo Caronte como o remador. Alguém me dá uma moeda para eu pagar minha viagem?

• Conheci o Ozônio. Era um rapaz bem posto na vida. Desde menino queria ser fruticultor porque seu quintal tinha mangueira grande. Dele, o brinquedo preferido era caverna do dragão, que ele mesmo tinha inventado, a piazada entrava com a caverna e ele com o dragão. Ozônio tinha muito gás para essas brincadeiras. Um dia, numa festinha, encantou-se com os balões de gás que enfeitavam a casa. Foi aí que teve a ideia. A ideia era levar as meninas a sentar nas bexigas, que estouravam, e isso era engraçado. Teve lá um menino, muito meigo, muito delicado, que não entendeu que a coisa era só para meninas, e exigiu entrar na brincadeira. Sentou e gostou. E isso ficou na sua mente. Anos mais tarde, quando a pandemia fazia vítimas no mundo inteiro, teve uma ideia de jerico e convidou seu mentor, o amigo Ozônio, para entrar no lance. Ozônio entrou. O resultado ninguém sabe.

FATOS QUE NÃO SE PODE PROVAR “Diante dessas piranhas quarenta sexos nos contemplam” – atribuída a Napoleão Bonaparte, em Gizé, Cairo, depois de uma noite regada a haxixe e arak.