8:00NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

* A síndica veio me visitar. Abri a porta não sem antes ter trocado minha máscara de Zorro pela de Durango Kid. Pelo que percebi, ela não é fã do Zorro.

 – O senhor possui animais em casa?

– Animais domésticos ou selvagens?

– Por que teria animais selvagens?

– Pois domésticos não tenho.

– Então, selvagens.

– Talvez.

Levei-a até a despensa de onde nos olhava com desespero a pomba que seria meu rango na ceia.

* O vizinho do 14 trouxe um cabrito para criar. Ô bichinho pra berrar feio! Até o Moisés anda de mau humor por causa desse filho de um bode. Aliás, preciso me lembrar de comprar hóstias para o felino. Ele gosta quando molho as hóstias no leite. Contanto que não seja leite consagrado. Quero ter em casa um gato terrivelmente católico.

 Hoje, não me aguentei:

– E aí, vizinho, quando é que vamos sacrificar esse animal e assar na minha churrasqueira?

Soube depois que não tinham cabrito nenhum. Aquele berreiro todo era do nenê.

Não falaram mais comigo.

* O vizinho do 13 é um medroso de marca maior. Toda noite vem uma prima diferente para lhe fazer companhia. As moças costumam chegar ali pelas duas da madrugada. Cara mais covarde! Com essa idade e ainda tem medo de dormir sozinho.

PENSAMENTÃO: Para coroar a desgraça que se abate sobre o país chegam os anjos do Senhor na forma de gafanhotos.

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