DIÁRIO DA PANDEMIA
* A síndica veio me visitar. Abri a porta não sem antes ter trocado minha máscara de Zorro pela de Durango Kid. Pelo que percebi, ela não é fã do Zorro.
– O senhor possui animais em casa?
– Animais domésticos ou selvagens?
– Por que teria animais selvagens?
– Pois domésticos não tenho.
– Então, selvagens.
– Talvez.
Levei-a até a despensa de onde nos olhava com desespero a pomba que seria meu rango na ceia.
* O vizinho do 14 trouxe um cabrito para criar. Ô bichinho pra berrar feio! Até o Moisés anda de mau humor por causa desse filho de um bode. Aliás, preciso me lembrar de comprar hóstias para o felino. Ele gosta quando molho as hóstias no leite. Contanto que não seja leite consagrado. Quero ter em casa um gato terrivelmente católico.
Hoje, não me aguentei:
– E aí, vizinho, quando é que vamos sacrificar esse animal e assar na minha churrasqueira?
Soube depois que não tinham cabrito nenhum. Aquele berreiro todo era do nenê.
Não falaram mais comigo.
* O vizinho do 13 é um medroso de marca maior. Toda noite vem uma prima diferente para lhe fazer companhia. As moças costumam chegar ali pelas duas da madrugada. Cara mais covarde! Com essa idade e ainda tem medo de dormir sozinho.
PENSAMENTÃO: Para coroar a desgraça que se abate sobre o país chegam os anjos do Senhor na forma de gafanhotos.