por Thea Tavares
Tudo o que eles têm agora para oferecer um ao outro é aquela lua no céu.
A distância até ela é infinitamente menor do que os obstáculos interpostos no caminho entre as duas pessoas. Ainda assim, têm esse magnetismo que chega colado na presença e nos cuidados um com o outro e que se manterá intacto na memória, como uma lembrança mágica das noites enluaradas que jogaram luzes sobre eles e serviram para que prestassem mais atenção a si mesmos.
Paixão tem disso: incendeia e revisita os limites da espontaneidade. Quando atinge essa marca, recrudesce e anestesia aquele sentimento dentro da gente. Depois cede, esfria, aterroriza e mergulha as pessoas na realidade abissal das ausências de comunicação. Sem essa ponte, fica difícil evoluir e transmutar aquela relação que de misteriosa e simpaticamente estranha, passou a insistentemente incômoda.
Mas vão levar para suas vidas – o que vierem a fazer ou não com elas – a delicada beleza do desconhecido, daquele “se” e daquela possibilidade, mínima que fosse, de encontrar sentido na conjunção (ou conjuração?) de suas trajetórias e sanar suas carências. Vão se carregar adiante, até inconscientemente, mesmo que neguem ou rejeitem essa ideia, como parte de uma lapidação, de uma contribuição complementar em uma obra que julgavam acabada, exata, precisa e muito bem definida.
A vida se diverte com essas “certezas” falíveis. A vida quer tocar o terror, tocar o “foda-se” e estremecer todas as bases. Só para testar as resistências e os pilares estruturais da formação das pessoas. Mas ela também quer nos encher de alegria, de ânimo e de sonhos, que tornem mais leves os dias e mais atrevidas as noites.
Os olhos se voltam para o céu em busca do cometa, da chuva de meteoros e da estrela cadente. Procuram fenômenos que façam explodir seus sentimentos e lhes tirem da mesmice cotidiana, na qual se vêem arraigados, entediados, porém seguros. Mas eles não querem enxergar o passeio em forma de arco que a lua faz todas as noites sobre suas cabeças, menos ainda a luz carregada de promessas que ela teimosamente lança para desvendar o autorreconhecimento daquelas existências.