Da revista Crusoé
O bolsopetismo age nos bastidores do Congresso para enterrar a proposta que reestabeleceria no Brasil a prisão de após condenação em segunda instância— o mecanismo que permitiu, por exemplo, que Lula fosse parar atrás das grades.
Nas últimas semanas, uma nova operação foi desencadeada nos bastidores do Congresso com o objetivo de enterrar ou, ao menos, desfigurar a proposta [de prisão de condenados após segunda instância]. Há uma novidade – não mais espantosa – na articulação: ela ganhou o apoio de cabeças coroadas do governo Bolsonaro e perdeu o ímpeto entre os parlamentares que, num passado recente, fizeram do apoio à medida seu estandarte eleitoral, como é o caso de Daniel Silveira, Carla Zambelli e Bia Kicis, hoje pontas de lança do bolsonarismo na Câmara.
O presidente da República, seus familiares e os neoaliados do Centrão querem evitar a retomada da discussão a qualquer custo por questões políticas, eleitorais, e, sobretudo, por instinto de autoproteção. Somam-se ao grupo governista parlamentares de esquerda e do PT que já estavam enrolados com a Justiça. Aí se configura um curioso encontro entre bolsonaristas e petistas. Nunca o fenômeno já conhecido como ‘bolsopetismo’ foi tão forte. Na batalha contra o resgate da prisão em segunda instância, a convergência assume ares de aliança. Do lado oposto, como alvos de ambos, estão a Lava Jato e os órgãos anticorrupção…
Na linha de frente da articulação para enterrar a PEC [da prisão após condenação em segunda instância], está o deputado Arthur Lira, líder do Progressistas na Câmara e recém-declarado bolsonarista. O parlamentar é a personificação do fisiológico Centrão. Age com desenvoltura no vale-tudo por cargos e verbas da União. Nessa nova quadra em favor da impunidade, Lira exerce tripla militância: atua a favor do Planalto, de seus liderados e em causa própria. O ‘malvado favorito’ de Bolsonaro – é assim que o próprio presidente costuma se referir a ele – é alvo de seis inquéritos que correm no Supremo. No processo que mira o chamado ‘Quadrilhão do PP’, a denúncia contra Lira e outros figurões do partido já foi aceita pela corte. No mês passado, a Procuradoria-Geral da República apresentou uma nova acusação contra o parlamentar…
Nos demais partidos empenhados em derrubar a proposta, também há interesses particulares e coletivos envolvidos. No PT, a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, é quem comanda a tropa de processados contrária à ideia. No final do ano passado, orientado por Gleisi, o deputado Paulo Teixeira chegou a entrar com uma ação no Supremo contra a PEC, logo que ela foi aprovada pela Comissão de Constituição de Justiça da Câmara. Hoje, porém, os petistas podem se dar ao luxo de fazer menos barulho contra o projeto por acreditar que o caminho está bem pavimentado pelos bolsonaristas para o seu arquivamento – ou, ao menos, para a sua desidratação…”
Tudo junto e misturado. Quem está fora não quer entrar. E quem está dentro quer sair.
Complementando o serviço, basta colocarem uma luz vermelha na porta, não é mesmo???