DIÁRIO DA PANDEMIA
- Minha amizade com a velhinha louca prosperou. Agora brincamos de adivinhar nomes de filmes. Eu cá e ela lá atrás da parede, ou ela lá e eu cá, tanto faz. Um dos dois faz gestos que direcionam o outro ao nome do filme que deve ser adivinhado. Sou o primeiro a falar. “Titanic!”. E ela: “Não, bobo. O poderoso chefão. Sua vez”. Faço cá gestos e a boba tenta adivinhar: “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”. “Não, boba, o filme é Estômago, feito aqui mesmo em Curitiba”. Jogamos assim durante horas. Outro dia, fui fazer café, voltei anos depois. “A morte pede carona” – ela disse. “Acertou” – respondi.
- Acho que tudo começou quando quando percebi que jogavam truco no lado de lá. Perguntei se também podia entrar. Concordaram. Formamos duplas, eu passei a ser chamado de Helenão, talvez em homenagem ao general Heleno – pelo menos, o nome que ouvi me soou assim. Até o vizinho tinha conversado com um cara do lado de lá, e o cara respondeu que “ele, não”.
Bom. Formamos as duplas, rolou a dada de cartas. Me couberam um 2 de ouros, um 3 de espadas e um 4 de paus. Cartas perigosas, mas virou um 3 e eu estava com o gato. A partida estava na mão. Dei uma lambida rápida no lábio inferior pra informar ao companheiro que eu estava com o gato. Ele deu uma franzida de testa me dizendo que não tinha nada. Daí, alguém trucou e apareceram quatro gatos na mesa. “Não quero jogar mais” – disse Mirtes, que nem estava jogando. E foi aí que o croché maçarocou e acabei perdendo o que já tinha tricotado.
- Não. Acho que tudo começou mesmo quando a vizinha pediu minha opinião sobre o vestido novo da filha. “Ficou muito bonito esse vestido cor de rosa” – eu disse. Ela ficou triste:”Mas a cor do vestido é branca”. Tive que explicar. “Tem rosas de muitas cores, Dona Sofia (não sei porque eu disse Sofia). Lá em casa, no nosso quintal tinha rosa amarela, vermelha, todas as rosas são cor de rosa. Chame uma rosa de ornitorrinco e ela continuará rosa não importando a cor de suas pépalas, plétalas, não consigo pronunciar essa palavra”.
É melhor viver assim do que vociferando contra as paredes que nos apartam. Quando a loucura é demais o santo desconfia.
Sensacional!
Falando em truco,quando jovem,apesar de morar na roça,eu gostava de troçar como amarrar capim no trilho,ou passar graxa nos quebra corpos.
Um dia fui na casa do sr Frederico Carazola,era pai da Soninha que eu dava uns amassos nas catanas de figueira e atrás da Ermida.
O Jogo valia os frangos com polenta,eu atras do Frederico,e o jogo estava 10×9 foi quando meu quase sogro saiu com espadilha e três,seu irmão ,o Primo Carazola tinha feito a primeira de 7 copas,e o jogo foi para o fecha,frederico mesmo com receio trucou para fechar,foi quando eu sapo lhe meti um 6 bem alto que quase matei o velho do coração.
Para namorar a Soninha,passamos meses escondidos,Frederico me proibiu até de passar na frente da colonia pelo susto que eu dei nele.
Clap! Clap! Clap! Munto bão!