Ela adorava seus imãs de geladeira. Índios. Sorrindo. Era a alma dela guardando o gélido ar. Contemplava-os toda vez que fumava em frente ao eletrodoméstico. Pensava: por que ainda não fora se consultar com um xamã? Amanhã. Quem sabe. Nunca iria se embrenhar na floresta para ouvir a voz das vozes. O som das águas. O voo das águias a elucidar suas sombras. O tambor tocou no fundo do ouvido. O inimigo a espreitar. Nadar em rios cheios de lendas, tomar o chá para vingar a morte e andar pela estrada que beira a loucura. Uma lua a atravessou. Ela olhou e se encantou. Pelo guerreiro. Iansã a profetizou no meio da alegria. Era a menina guerreira e libertária. Como a cruz dos que foram chamados. Pouso leve na alma. Um pássaro a cantar as ondas de Iemanjá. Fez o sinal. E ouviu a melodia dos dias embelezados pelas deusas do Arpoador. Um amor, afinal. E os índios em seu astral. A perdoar a sua sina de menina rebelde. A febre da paixão de um não. A espada na mão dos que lutaram pela luz. E uma canção. Breve. Singela. Como um beija-flor enamorado. A natureza lhe disse para viajar pelas incertezas. Estava certa: era o sertão da vida breve, um olhar na neve, uma aposta fictícia, a pedra cristalina da razão.
Faz 35 anos que religiosamente vou pescar no Rio Corrente,divisa do MT com MS, tem ali um lugar magico,onde o silencio é tanto que se escuta o bater do coração.
Ora ou outra interrompido pela bocada de um pintado ou o rastejar de uma serpente nas folhas secas.
Adotamos o concreto para passara grande parte de nossas vidas,enquanto as florestas agonizam ,sobrando poucos santuários como esse.