7:17ticiana vasconcelos silva

Ela adorava seus imãs de geladeira. Índios. Sorrindo. Era a alma dela guardando o gélido ar. Contemplava-os toda vez que fumava em frente ao eletrodoméstico. Pensava: por que ainda não fora se consultar com um xamã? Amanhã. Quem sabe. Nunca iria se embrenhar na floresta para ouvir a voz das vozes. O som das águas. O voo das águias a elucidar suas sombras. O tambor tocou no fundo do ouvido. O inimigo a espreitar. Nadar em rios cheios de lendas, tomar o chá para vingar a morte e andar pela estrada que beira a loucura. Uma lua a atravessou. Ela olhou e se encantou. Pelo guerreiro. Iansã a profetizou no meio da alegria. Era a menina guerreira e libertária. Como a cruz dos que foram chamados. Pouso leve na alma. Um pássaro a cantar as ondas de Iemanjá. Fez o sinal. E ouviu a melodia dos dias embelezados pelas deusas do Arpoador. Um amor, afinal. E os índios em seu astral. A perdoar a sua sina de menina rebelde. A febre da paixão de um não. A espada na mão dos que lutaram pela luz. E uma canção. Breve. Singela. Como um beija-flor enamorado. A natureza lhe disse para viajar pelas incertezas. Estava certa: era o sertão da vida breve, um olhar na neve, uma aposta fictícia, a pedra cristalina da razão.

Uma ideia sobre “ticiana vasconcelos silva

  1. SERGIO SILVESTRE

    Faz 35 anos que religiosamente vou pescar no Rio Corrente,divisa do MT com MS, tem ali um lugar magico,onde o silencio é tanto que se escuta o bater do coração.
    Ora ou outra interrompido pela bocada de um pintado ou o rastejar de uma serpente nas folhas secas.
    Adotamos o concreto para passara grande parte de nossas vidas,enquanto as florestas agonizam ,sobrando poucos santuários como esse.

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