Entrei no olho mágico do rádio. Há sessenta anos. Aconteceu tudo, mas nada comigo, porque estou aqui. Sintonizando. O silêncio eterno do Maracanã no 16 de julho. A voz do Barbosa contando, sem dentes na boca, que esperava o cruzamento. A bola de capotão entrou e deixou a marca eterna em sua mão esquerda, onde raspou. Dom Paulo Evaristo Arns na missa para o Vladimir Herzog. Ele mesmo agradecendo a Basílio pelo gol que acabou com a longa agonia do Corinthians na espera do título. Alguém disse eu prendo e arrebento, mas ele e o cavalo foram afogados pelo mar de músicas que recolhi aqui. Quem sabe faz a hora ficou para sempre no olhar do meu olho que sou olho. Perfeito como a tabelinha Pelé/Coutinho. Pelo ar, de cabeça, terminando no gol narrado por Pedro Luiz Edson Leite Fiori Giglioti Osmar Santos. Sem piscar. Porque nã há cílios ou pálpebras. Mágico desde o nascimento, sempre tranquilo e infalível na esperança da vida que segue.