por Thea Tavares
“Trajetórias opostas
Sem jamais deixar de se olhar”.
(Feliz – Gonzaguinha)
A distância nem é tão grande assim, mas se apresenta como intransponível.
As diferenças, que seriam facilmente contornadas ou superadas pela força das vontades e aceitações, se impõem sobre um chão de dúvidas e de incertezas.
As palavras, sim, estas até que tentaram com doses de racionalidade disfarçar seus sentidos, mas acabaram por denunciar uma carga emocional de significados, emitidos no bojo das escolhas dos vocábulos e de suas combinações.
A vida sempre surpreende e nos desafia. Inventa toda uma engenharia complicada e descortina caminhos estranhos para sinalizar lugares comuns, que se resumem e se encontram nas esquinas dos desejos da alma humana. Os encontros que ela formula, engendra e possibilita já vêm com marcador de localização precisa.
“Apenas a matéria vida era tão fina”.
(Cajuína – Caetano Veloso).
E a gente se faz de bobo. Se não entende ou não possui uma leitura clara de imediato, sente, intui e projeta nas nossas escolhas a decisão se cala ou se dá ouvidos ao que ressoa desse coeficiente maluco de medos e de anseios.
O tempo, por sua vez, se arrasta para acomodar e assentar o turbilhão de obstáculos que foram ganhando intensidade ao longo e ao peso das circunstâncias.
Quando a gente acha que sabe tudo, que domina o funcionamento e recita de memória as regras da vida, bastam a delicadeza de um sorriso e a curiosidade de um olhar para bagunçar os pensamentos e colocar em xeque aqueles fundamentos mais arraigados às nossas engessadas verdades. Para questioná-las, transformá-las, revisá-las e fortalecê-las.
Não é preciso nem entender e racionalizar por completo as informações para, somente a partir daí, se perceber diante de uma falsa sensação de segurança. Não! Esse incompreensível está amparado justamente na magia intuitiva daquela sabedoria construída para desafiar e vencer as inércias e as paralisias do cotidiano, mesmo que elas nos confortem e nos envelheçam. Chegou a hora de remover as teias.
“Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver”.
(Travessia – Milton Nascimento e Fernando Brant).
Pela fresta da janela, o vento joga no colo uma folha de árvore. É como se ela carregasse nas informações da raiz e da seiva, ainda que arrancada, uma mensagem forte de despertar, que distrai a atenção dos afazeres mecânicos e convida para olhar lá fora, além, e mapear nessa busca o ponto de encontro com o som e com os impulsos que gritam e perturbam por dentro.
A certeza que fica – e nela se pode confiar – é a de que a tempestade de confusões vai logo se dissipar na ausência das distâncias, na eliminação das diferenças e na sinceridade corajosa das palavras. O sol está nascendo. Ele veio iluminar essa travessia.
Um dia ainda adolescente nos meus tempos de seminário,sentei numa pedra e comecei a pensar no fim,e fui lá na ultima fronteira,o fim do Universo,mas tem tantos universos ,mas deve ter um fim,fui lá no fim e descobri que não era o fim,
Pois é,pense você onde é o fim,e descobri que o fim está comigo,esse breve sonho logo passa e jamais eu e você saberemos.