DIÁRIO DA PANDEMIA
- Levando a gaiota ao campo e catando as pizzas secas que as vacas esqueciam no gramado. Chegando em casa com o tesouro, e meu pai espalhando aquilo tudo nos canteiros das verduras. E tudo era verdura. O tomate era verdura, bem como a couve e a alface. Talvez até as abóboras amarelas cor do sol fossem chamadas verduras porque tudo era verdura, tudo nos alimentava.
- Descendo a ladeira da nossa rua no carrinho de rolimã, sem freio e sem documento. O desastre muita vez esperando no fim do caminho. Um joelho ralado, um cotovelo doendo, marcas da guerra.
- Indo para a escola, cortando a manhã fria que nos cortava. O vento comendo a orelha, os pés gelados, o nariz sempre pingando. Mas os olhos, esses olhavam para o futuro e o futuro estava na escola. E na escola ficou esse futuro, congelado no tempo, negado a tantos de nós. Só o frio foi real.
Sem contar dos pés descalços ,eles abriam os dedos parecendo pés de pato,um convite as frieiras que eram gostosamente coçadas no pasto com o pé enfiado num quentinho monte de bosta de vaca.