por Mário Montanha Teixeira Filho
• Eu não quero saber de certidões. A burocracia machuca, com suas exigências que se multiplicam, suas armadilhas sutis, seus detalhes. A lei, a portaria, a ordem de serviço.
• Olho-me. O reflexo no espelho desenha um rosto estranho, de olhos fundos e expressão de medo: o eu presente.
• A dor se espalha, toma conta do meu corpo. Dor que me faz caminhar lentamente, destituído de vontade, sem esperança de chegar. Dor das expressões vazias, como a tal esperança de chegar.
• Até quando o peso que me rouba o ar e faz arder o meu peito?
• Darei um grito, um verdadeiro grito, para que eu mesmo possa ser testemunha da minha agonia.
• O amor contradiz o meu discurso racional / pelo bem / e pelo mal.
• Minhas lágrimas desbragadas, que chegam agora, colocarei numa garrafa. E lançarei a garrafa ao mar, para os náufragos, para mim.
• Meu egoísmo é meu.
• Contesto, discordo, desfaço, refaço, desejo, insisto, sustento, machuco, escrevo, escuto, desarmo, desenho, desdenho, contemplo, arrumo, destruo, erro.
• A tentativa de lucidez confunde e abraça a sombra de mim.
• Até quando, Geraldo, el sueño con serpientes? Oxalá te conheça, que me encontre La Negra. E Silvio, a nuvem, o avião, a Cassiopeia. Luz da noite sobre o roseiral de Angenor, sol que nascerá, bom dia.