Rasguei a foto. Também oguei fora os óculos. A imagem era pior – e me incomodava. Os óculos foi por causa do “quatro oio” que ouvia no colégio. Nunca reagi. Mudo, as entranhas sendo dizimadas. Mas a fotografia… Era mais novo. A cabeça poderia servir de exemplo para a piada do menino que vai fazer compras e não precisava levar a sacola, só o boné. Camisa de botão não fechava. A barriga estufada e o umbigo saltado. Quando vi aquilo quis apagar essa parte da minha história. Bucho cheio de bichas, como se dizia. Errei. Hoje lamento. Mas durante um tempo não saiu da minha cabeça, como uma cena de horror… Até que veio o complemento ao saber que, quando bebê, era alimentado com leite condensado. Como pode? Mamãe não tinha leite, e a mamadeira… Crucifiquei-a em pensamento, apesar de muito mais tarde ter dado um nó na coisa dizendo que aquela alimentação tinha me deixado docinho para sempre. Até que, recentemente, tudo sumiu. Velho, dobrando o cabo da boa esperança, vi o cartaz antigo no restaurante. Era uma reprodução de propaganda da década de 50 do século passado. Lá estava, em desenho colorido a mãe alimentando o filho, com leite moça, ou seja, condensado, e a recomendação que garantia a qualidade e benefícios do produto. Agora procuro o cartaz original – para pendurar na parede de casa, olhar sempre e agradecer pela doçura concedida.
Mas pode com alguns ovos me chamar de “pudim’