por José Maria Correia

Há mais de meio século entrelaçamos nossos braços, nossas mãos.
Nunca, nem no “jamas de los jamases”, desfizemos esses laços de ternura e de amor.
Nosso pacto de romance juvenil foi para sempre .
Construímos toda uma vida a passos duplos, com a paixão da juventude, o amor transformado em serenidade e o companheirismo que só a maturidade aporta.

Atravessamos todos os mares, suas calmarias, tempestades e bonanças.
Passamos por gerações, “vimos o sol morrer  e vimos nascer a aurora.”
Estivemos em todos os alvoreceres, em todos os crepúsculos, nas luzes que nos deslumbraram e nas sombras que nos atemorizaram .

Vivenciamos as perdas, os ganhos e também os muitos danos e as doídas ausências definitivas e que tanto nos entristeceram e ainda nos causam sofrências .

Mas por onde percorremos nossos caminhos, procurarando nossos rumos , sempre o amor foi guia e nos acompanhou.

Como uma lanterna na proa , em direção ao nosso norte magnético e onde os bons ventos sopram , como o Mistral , o do Outono.

Temos hoje, já no terceiro ato que vivemos, filhas lindas, netas, neto e genros-filhos.
Uma família muito abençoada e unida foi o sentido maior que pudemos dar e demos às nossas existências.

E tudo começou há muito tempo, no passado, com dois adolescentes ingênuos no escurinho do cinema , um toque de mão trêmulo e um simples beijo furtivo na face ruborizada.
O namoro contido e limitado pelas convenções.

Depois, já nos anos dourados, dos cabelos longos e de Woodstock , quando enfim  o desejo incendiou e abrasou nos corpos juvenis e a paixão nos consumiu sem limites.
Foram décadas de amor adulto e superações, desafios e renúncias do individual pela compreensão do outro.

Passamos pelos anos de chumbo e por todas as crises existenciais que nos separavam, mas voltavam à nos unir como se fossemos litorais de continentes distantes que nas correntes buscavam suas aproximações, por destino e atração, inexoravelmente.

Nos tornamos quase uno – generosamente temos vividos também pelo próximo, com uma visão holística que o mundo nos ensinou.

O mar, a praia e a montanha nos inspiraram a viver também pela natureza , pelas flores e nossos bichinhos que resgatamos.

Nunca houve espaço em nossos corações para a mesquinhez e para o mal.

Em nossas imperfeições nos amamos e ao confrontar nossas faces de vincos e marcas dos mapas de nossas vivências, as luzes e os brilhos dos olhos reconhecem um ao outro e ao tempo

É quando temos a consciência que o amor somente entre o casal é incompleto, e se completa com a compaixão por nós espelhados nos outros.

Ressumbra e pulsa forte em cada ser, na beleza divina das criaturas e na espiritualidade sagrada que nos habita e seguirá conosco além .

Muito além  do respirar terreno e em direção ao desconhecido infinito.

Onde  residem todos os mistérios e se abriga toda a nossa melhor esperança, a do grande reencontro entre as galáxias desconhecidas , os astros e as estrelas do firmamento , nesse imenso azul que nos aguarda e nos abrigará em seu manto de luz , sossego e paz eterna , algum dia.

Com amor JM