de Fernando Muniz
Um rapaz, casado há pouco, procura conselho com o rabino. “Nunca pensei que ela seria assim… minha mulher me maltrata o dia inteiro! Me ofende, me esculhamba, me humilha”!
O rabino cofia a barba, olha para os livros sagrados, pensa que, desta vez, a casamenteira errou a mão e diz: “Peça o divórcio”. O rapaz se assusta na cadeira. “Como?! Mas eu a amo muito”! O rabino olha para o relógio; quase hora da reza da tarde. “Então… não se divorcie”.
Alguns dias depois, logo após a reza da manhã, o rapaz aparece de novo na sinagoga. O rabino desconfia; aquele tipo nunca deu a mínima para a religião. “Rabino… não sei mais o que fazer. Minha mulher me chama a atenção na frente da minha mãe, me xinga, me trata feito um capacho”. O rabino coça a cabeça, roga uma praga em iídiche e responde: “Divorcie-se”.
“Mas rabino, o que a comunidade vai dizer? E a minha mãe, então? Que sou um frouxo e que não sei mandar nem na minha casa”? O rabino, atrasado para uma aula de bar mitzvá, começa a andar, seguido pelo rapaz. “Então… não se divorcie”.
As semanas passam e o rapaz não aparece mais. Até um domingo de manhã, quando lá vem ele, aos gritos, bem na hora de um enterro. “Rabino, rabino, preciso falar com você”!
“É sobre a sua mulher”? O rapaz se desespera. “Como o senhor sabe?! Já contaram”?
Algum desastre, talvez. O rabino para de caminhar e o escuta. “É que… ela não quer mais cozinhar para mim! Enquanto eu não arrumar um emprego fora da loja do meu pai. E disse que não vai dormir mais comigo até eu conseguir. Absurdo, rabino”!
O religioso olha fundo nos olhos do rapaz, coloca o braço no seu ombro, solta um suspiro e aponta para a janela. “Tá vendo aquela igreja ali? Vá lá. E se converta”.
O rapaz empalidece. Treme os lábios, quase em choro. “Mas como o senhor pode me dizer uma coisa dessas”?
“Vá lá. E encha o saco do padre”.