por Greg Mariano
Era 23 de abril em Almirante Tamandaré, Paraná, quando Jorge sofreu um ataque cardíaco fulminante e caiu no chão sem vida.
No início houve um clarão cegante, sucedido pela visão de um imenso e fértil vale cercado por colinas repletas de araucárias, ambrosia, pinhão, néctar e mel.
De súbito viu uma figura vestida de branco, vinda de longe em sua direção naquele lindo e idílico vale.
Jorge finalmente encontrara Deus.
Ele era um sujeito pardo, de amplo sorriso, a camisa aberta até quase o umbigo e no seu pescoço um enorme e pesado colar de ouro – seu cheiro era uma mistura da fragrância de água de rosas com suor. Gentilmente se dirigiu ao recém morto:
“Jorge, meu filho. Seja bem-vindo. Eu sou Deus. Alguma pergunta?”
“Bom, sim” – Respondeu Jorge de imediato – “Eu vim bem no intervalo do brasileirão. A quantas terminou o jogo do Coritiba contra o Santa Cruz?”
Deus suspirou, com pesar:
“3×2 pro Santa Cruz, e com aquele pênalti não dado pro Coxa no primeiro tempo”.
“Mas puta que pariu, hein!”
“Pois é. Quando concedi a graça do futebol para a humanidade pelo meu filho, Jesus Cristo, dei a ele a orientação de pregar por um futebol rápido e agressivo, que entraria tanto pelas laterais quando pelo meio, em cruzamentos, ou mesmo chute diretos pro gol. Infelizmente ele foi crucificado bem no dia em que estrearia como técnico e então tudo se perdeu.”
Fez-se breve silêncio, interrompido por uma indagação de Jorge:
“Bom, e agora, o que acontecerá?”
Deus fitou a sua criação por alguns minutos antes de finalmente responder:
“O Coritiba não vai ganhar o brasileirão deste ano, Jorge, nem o do ano que vem.” – Deus palitava os dentes enquanto falava – “E você vai vir comigo colher pinhão”.
Deus torce, mas não interfere.