por Fernando Muniz
As ovelhas se espalham pelo campo; não abandonam o carneiro grande, líder do rebanho, feito refém, amarrado junto a uma árvore. Perdem-se e retornam, mesmo sabendo o que a sorte lhes reserva.
Primeiro as mais gordas; com o tempo, até as mais frágeis acabam apanhadas. Previsíveis, fazem a festa dos caçadores. Não gritam, não lutam pela vida, feito porcos ou cães, que, na presença de alguma ameaça uivam, mordem e tentam fugir.
Elas pouco se importam com o seu destino. De olhos abertos, mansas, seguem o carrasco, que sequer esconde o cutelo, até o abatedouro.
Os caçadores não compreendem esse comportamento. Riem, enquanto se esbaldam com a carne macia, feito porcos, ou cães.
Para ovelhas aquilo é um ritual. Um sacrifício.
E se desprendem da morte.