A poesia precede a filosofia. Ouvi de um estudante que a filosofia nasceu da poesia. Bonito. Eu fico na poesia, que é minha tarefa árdua de todo dia. Porque nasci com essa missão. A cada escrita, coloco minha mente a pensar no que escrever. Nada vem como uma forma de absorção, mas, sim, de uma mente a serviço da alma. E ela parece uma pessoa histérica a sussurrar ventos sem direção. Eu a escuto. Incessantemente. E cumpro o trabalho como uma razoável serviçal. Quisera eu ser apenas um corpo de prazeres, uma mente cheia de números, um coração vazio, sem um pio. Mas sou quase as minhas vísceras para fora. Metáforas constantes. Um semblante sem o menor sinal de concordância com o mundo. A alma não cala nem mesmo na madrugada. O inferno. Mas eu a compreendo tanto quanto o sol. Somos uma parceria. Ela vem e eu obedeço às suas ordens. Sou uma escrava. Muito bem paga, aliás. Mas se eu decidir ir por uma jornada mais distante, ela vai me condenar. Por isso, pago o preço de apenas estar. Stars na sala de estar. Como alguns escritores noturnos, me uno à digestão mágica de palavras sopradas e inspiro para não sair sem direção pelas ruas. Até encontrar o que ela quer: o que não existe.