A notícia chegou nesta manhã gelada de Curitiba. Como será que o melhor repórter policial da cidade a transmitiria? Sim, porque Ali Chaim era mestre da palavra falada, seja no rádio, na televisão ou na conversa que podia ser na entrevista do bandido, que ele nunca escrachava, ou do policial. Era ‘carrapicho’ de primeira qualidade – e a gíria era o universo onde trafegava com a maior desenvoltura. Pois então veio a resenha dessa maneira: “Ali Chaim morreu. Passou mal, foi para o hospital e teve uma parada cardíaca. A Esmeralda e a Camila, filha, pedem para avisar os amigos. O velório será hoje, 28 de maio, das 10h às 15h, na Capela 01 do Cemitério Memorial da Vida, em São José dos Pinhais” Sclang! Chaim tinha uma voz rouca e a melodia que ela embalava nas palavras davam o tom exato do que servia com perfeição para o mundo em que vivia. Ah, sim, foi um policial que enviou a notícia do falecimento. Essa palavra ele usaria, com certeza, assim como “lóqui”, perfeita para definir os que contribuíram para que ele sumisse das paradas, apesar de continuar nas quebradas com seu gravadorzinho onde prensava os tiras para saber dos bastidores e educadamente perguntava aos marginais para ter o mesmo resultado, ou seja, um pouco neste mundo onde se vive no limite. O resultado ia ao ar na rádio Educativa AM, onde encerrou sua missão, que cumpriu de forma brilhante. O Califa 33 era único. Na TV Iguaçu dava as notícias do seu jeito, mas sem aparecer. Porque criou o personagem que aparecia só como uma silhueta, de perfil, ideia chupada anos depois pelo apresentador Ratinho, mas não para notícias policiais. Chaim poderia ser comparado a outro grande repórter policial, Octávio Ribeiro, o Pena Branca, conhecido no Brasil inteiro por quem se interessa por jornalismo. A diferença é que Ribeiro escrevia – e no mesmo linguajar de Chaim, trabalhou em grandes jornais e revistas, publicou livros e sempre foi reconhecido. Aqui, o Califa foi ficando só na dele. O signatário teve a honra de um dia entrevistá-lo para um jornal tabloide que era distribuído gratuitamente para o povão dos ônibus – o Expresso da Cidade. Conversamos durante horas numa sala da redação. Foi uma lição de vida de quem sempre estava lidando com a morte. Tem a ver. Ali Chaim tinha 81 anos. Será eterno. Sclang!
Foi o repórter policial mais humano que conheci.
Triste notícia!
Gigante, fiz dois programas com ele sobre o Jeitinho e o Direito (como entrevistado), um locutor fantástico, uma pessoa espetacular. Deus o tenha.
Segue com Deus, grande Califa!
Um profissional admirável, honesto, franco, de dicado e talentoso. É mais um momento de saudade de um amigo que nos deixa.
Além de dono de um estilo único, um sujeito afável, agradabilíssimo, de boa conversa. Pessoal das antiga indo embora e deixando saudade.