por Mário Montanha Teixeira Filho
O sol ilumina as ruas por onde passo. Sigo lentamente, sem vontade de chegar. Observo os carros que se multiplicam, lanço neles um olhar desinteressado e me pego submerso em outro tempo. Que tempo, afinal? Não sei dizer. Vejo casas de muros baixos, cachorros com preguiça e pessoas agarradas em seus sobretudos. É escuro e faz frio no meu mundo extemporâneo. Uma tristeza súbita, então, se espalha em mim. Sinto o vento me enrugar a cara e murchar os sonhos que seguiam comigo, mãos dadas com a esperança que se foi. Permaneço em silêncio, sem prestar atenção ao homem que me aborda, questionário na mão, para me vender felicidade a preço módico. Finjo não escutar o seu discurso raso – ou não escuto, protegido por um torpor estranho – e tomo o rumo da velha repartição. Sei que me esperam toneladas de papéis, expressões conhecidas, formalidades inúteis. Cumpro expediente, escrevo frases frias, levanto um pouco, tomo café e um copo d’água, não reclamo. Faço apenas esperar o avanço das horas, até que meus passos se percam, de volta e em sentido contrário, nos mesmos caminhos de sempre.