por Thea Tavares
Tento positivar, abstrair, espairecer e manter a cabeça sempre focada no resgate das coisas boas e promissoras da vida para não embarcar num pessimismo que nunca ajudou em nada mesmo e que não fará qualquer sentido justo no contexto atual. Tudo isso com a noção exata da dimensão do que estamos enfrentando, com os pés bem enraizados no chão. Propus-me a trazer para essa interação que me resta a leveza do cotidiano, mesmo que seja esse um cotidiano assim caótico, assustadoramente inédito e entremeado de incertezas.
Mas desde ontem, tudo isso virou distração e perdeu um pouco a importância que tinha até então. Uma amiga muito querida está vivendo aquela expectativa de, no isolamento forçado, ficar atenta aos sintomas da COVID-19 que se manifestam nela pelo período protocolar padrão de sete dias, até poder fazer o exame específico, agendado junto à unidade de saúde da sua cidade para o final desta semana. É o procedimento que deverá conferir um diagnóstico preciso e esclarecedor sobre a dúvida se ela contraiu ou não essa maldita doença.
Coloco-me em seu lugar e fico dolorosamente imaginando o que seriam seus pensamentos nessa hora; Perguntando-me que filmes, como se diz por aí, passam por sua cabeça agora. O que uma pessoa de fora e de longe possa falar para suavizar esses momentos angustiantes, em que a amiga observa sintomas evoluírem ou retrocederem apenas pelas respostas do organismo, cuida cada sinal que o corpo emite e tenta alimentá-lo com antídotos naturais e artificiais que possam esperançosamente suportar essa expectativa ou frear a possibilidade de confirmação da COVID-19? Concluo que qualquer coisa que uma pessoa alheia lhe diga soará inapropriado, visto ser totalmente isento de conhecimentos e que a boa vontade, se desprovida de algum saber mais concreto ou tecnicamente comprovado, pode massagear o ego e a consciência do “ser humaninho”, mas de fato não agregará conforto.
Minha amiga, generosa por natureza, está se dedicando aos autocuidados e tentando administrar os pensamentos que a assombram, a ansiedade e o pânico da situação que insistem em martelar suas ideias. Mas sem deixar de fazer o que temos visto dezenas de pessoas fazerem todos os dias pelo noticiário da TV: mandar um recado, uma súplica às demais pessoas, que não foram contagiadas, para se conscientizarem logo da gravidade dessa pandemia. Para ficarem em casa, para se resguardarem e tentarem de todas as formas proteger os seus. A definição de “pandemia” nos remete à gravidade em escala global do problema. Não seria logo no país-Titanic de então que passaríamos ilesos.
Não tem outra fórmula! Até podermos nos imunizar, é como “brincar” de roleta russa arriscar para descobrir tarde demais se o próprio organismo é resistente o suficiente à ação desse novo coronavírus e, caso não seja, se o atendimento buscado nas redes pública e privada de saúde estará disponível e será eficaz no tratamento dessa enfermidade. Os números de casos que todos os dias aumentam nas notícias estão cada vez mais próximos de nós; Têm rostos e histórias familiares. Tudo de repente ficou menor e tudo, tanto no presente quanto no futuro, poderá ser reorganizado se tivermos apoio e vida para tocarmos em frente.
Daqui, só posso torcer, rezar e emitir as melhores energias para que no decorrer dos próximos dias ou não se confirme o diagnóstico dessa doença na minha amiga ou não se trate de um caso que demande a internação e os procedimentos que embutem uma carga maior de sofrimento. É a forma de positivar essa conjuntura que temos para hoje. Também, vale manter a neura e a paranoia de se higienizar e de evitar a exposição ao perigo. Porque apesar de fazermos tudo isso, como a minha amiga fez, o risco vai continuar existindo e rondando a nossa porta enquanto todos não fizerem exatamente o mesmo.
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