por Miriam Leitão, em O Globo
A ida do presidente Jair Bolsonaro, do ministro Paulo Guedes e de outros membros do governo e empresários ao Supremo Tribunal Federal pedindo a abertura da economia e a volta à normalidade é totalmente sem sentido. Parece pressão, e é. O relacionamento com o STF não pode ser dessa forma, tem que ser através dos inúmeros instrumentos jurídicos que existem.
O que o ministro Dias Toffoli respondeu diante da pressão explícita de abertura da economia é que o Executivo deveria criar um gabinete de crise e se reunir com Estados e Municípios para agir de forma coordenada. Nem era papel dele dizer isso, mas no fim das contas ele estava falando que o governo precisa governar.
A parte mais sem sentido da conversa foi aquela em que o ministro Paulo Guedes protesta contra a decisão do Congresso de livrar várias categorias de servidores do congelamento dos salários, quando o Brasil viu que foi o próprio presidente Bolsonaro que instruiu o líder Deputado Major Vitor Hugo para defender isso em plenário. Ou seja, isso é um assunto interno do governo, que Paulo Guedes deveria tratar diretamente com seu chefe. Aliás, por insistência da imprensa, o presidente acabou dizendo que vai vetar a decisão do Congresso de preservar algumas categorias do congelamento dos salários que ele mesmo havia recomendado.
O empresário Marco Pollo Mello Lopes, presidente da Aço Brasil, que representa a siderurgia, pediu a reabertura do país em 15 dias. E o presidente Bolsonaro chegou a dizer o seguinte:
– Alguns dizem que ‘a economia deixa pra lá, o importante é a vida’. Não é assim não.
A afirmação feita na reunião, pelos empresários, de que outros países estão retomando atividade distorce a realidade. São países nos quais a curva da pandemia já está descendo, a nossa está subindo de forma assustadora nos últimos dias.
Um total despropósito, do começo ao final, essa marcha sobre o Supremo. Primeiro porque não faz sentido “decretar a normalidade” no meio de uma pandemia elevando a intensidade, segundo porque não é o presidente do Supremo que vai decidir isso, terceiro porque o presidente acabou ouvindo o óbvio: coordene, reúna-se aos governadores, faça um gabinete de crise.
Não entendo porque Paula Guedes não pediu demissão