por Maria Hermínia Tavares
Minoria criminosa repete o brado do general fascista espanhol Millán-Astray em 1930
É muito o que não se sabe sobre o avanço da Covid-19 no país. Ainda assim, parece que não nos saímos tão mal até aqui, como apontou nesta Folha o colunista Vinicius Torres Freire. Comparando a proporção de mortos por 1 milhão de pessoas, nos 40 dias depois da décima vítima, ele calculou que, mesmo descontada a subnotificação, a proporção de casos letais no Brasil era menor que nos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Reino Unido e Espanha. Ressalvou, porém, que tudo poderia piorar, pois a progressão dos óbitos não dá margem a muito otimismo.
O mérito daqueles resultados alentadores tem de ser creditado por inteiro ao SUS e às suas equipes, aos governadores e aos prefeitos que adotaram a tempo medidas de distanciamento social e fizeram a parte que lhes cabe na mobilização do sistema público de saúde. Por terem seguido o caminho indicado pelos especialistas, alguns se tornaram alvo de Bolsonaro e das minorias abestadas que o seguem.
Mas o que os governos subnacionais podem fazer tem limites. Na saúde, assim como em outras áreas sociais, o modelo brasileiro é o federalismo centralizado. Nele, a União detém grande poder normativo, regulatório e financeiro, enquanto aos estados —e especialmente aos municípios— cabe a implementação das ações.
Nesta crise, ao mesmo tempo em que o tosco chefe do Executivo sabota políticas razoáveis, por palavras e atos —mudando o ministro da Saúde, opondo-se ao isolamento social e dando como certos os ainda duvidosos benefícios de drogas tidas por miraculosas, de cujos efeitos colaterais, aliás, desdenha—, a máquina sob o seu desgoverno tem respondido de forma lenta e errática.
Em artigo certeiro no site Poder360 —”A velha falta de prioridade e uma nova tragédia anunciada”—, o economista José Roberto Afonso e a procuradora Élida Pinto lembram que não é de hoje o sub-financiamento do SUS. Mostram também o abismo entre o que já está aprovado e o que efetivamente foi desembolsado pela União para a saúde, como se o combate à pandemia não fosse urgência urgentíssima.
Parcela crescente da população reconhece que os governadores agem em defesa da vida. Segundo pesquisa da XP-Investimentos, em abril a sua avaliação positiva saltou 18 pontos percentuais, passando de 26 % a 44% os que consideram sua atuação ótima ou boa.
Enquanto isso, a minoria criminosa que buzina às portas de hospitais, ofende enfermeiras, espanca jornalistas e se prosterna diante Bolsonaro ecoa, naturalmente sem saber, o brado do general fascista espanhol Millán-Astray nos anos 1930: “Abaixo a inteligência, viva a morte!”.
*Publicado na Folha de S.Paulo