Na terra seca olhei as flores brancas. Abaixo das raízes finas, o suor dos corpos na rede ainda tinha vida. Foi há mais de meio século, naquele lugar, dentro de uma casa de taipa, na rede, em silêncio de catedral, no fundo de um poço de desejos. Concebido sob um céu de estrelas pintadas pelas mãos do poder superior. Não havia lua. Vaga-lumes iluminavam a superfície do açude. Uma cobra olhou. Xangô falou pra Oxum “esse promete”. Certa vez, no subúrbio do Rio, o poeta criou a capa da noite. Todos daquele dia, do passado nunca distante, subiram e desceram os morros da vida. Alguns com calos nas mãos, outros descobrindo o infinito poder da própria mente. Olhei de novo. Um vento quente empurrou minha atenção das florzinhas para a mangueira que fazia sombra logo adiante. Ao lado, um cajueiro; mas adiante, uma jaqueira. Sol de derreter. Refazendo tudo, porque desde aquele silêncio também sou música. Sítio São José de Baixo. A origem.