de Nelson Rodrigues
– Sei que meus personagens dão, quase sempre, uma impressão de sordidez. Mas aí é que está: – o homem se sustenta nos dois pés, e só não anda de quatro, só não escorrega nas rolhas, porque é sórdido. De fato, nunca se viu uma cabra vil, um bode cínico, uma zebra abjeta. Se retirarem do homem a sua abjeção, ele vai acabar num desfile, montado por um Dragão de esporas e penacho.
– As senhoras me dizem: – “Eu queria que os seus personagens fossem como todo mundo”. E não ocorre a ninguém que os meus personagens são como todo mundo, daí a repulsa que provocam. Ninguém gosta de ver no palco sua íntimas chagas, suas inconfessas abjeções.