por Joel Pinheiro da Fonseca
Democracia em Vertigem’ reproduz narrativa petista da história recente
Será que o primeiro Oscar brasileiro irá justamente para o PT? Confesso —como aliás já escrevi por aqui na época do lançamento— que não sou grande fã de “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, documentário que está entre os indicados para o Oscar deste ano.
É uma ilusão acreditar que um documentário seja, por sua própria natureza, uma descrição minimamente objetiva da realidade. A única diferença para com a ficção é que ele cria sua narrativa selecionando documentos (imagens, depoimentos) reais, e não construídos.
O documentário engajado, gênero consagrado por Michael Moore, não esconde sua parcialidade e seleção enviesada dos documentos que apresentará ao público. É o que temos aqui, e é uma pena.
O filme reproduz a narrativa petista da história recente: Lula e o PT chegaram ao poder e melhoraram a vida dos brasileiros mais pobres ao mesmo tempo que enfrentaram os interesses das elites. Infelizmente, no exercício do poder o PT se aliou à velha política brasileira, serva das elites, e acabou sendo derrubado por ela.
Em nenhum momento o documentário encara de frente dois problemas fatais para sua narrativa: o primeiro é a política econômica dos anos Dilma, que produziram a recessão da qual ainda não nos recuperamos.
A década de 2010-2019 foi a de pior crescimento desde 1900. Esse desastre legou ao país 13 milhões de desempregados, ao mesmo tempo em que a política econômica enchia os bolsos de grandes empresários, como os donos da construtora Andrade Gutierrez, família de Petra.
O segundo é uma discussão do mérito dos crimes de responsabilidade dos quais Dilma foi acusada, que revelaria pedaladas fiscais e liberação de créditos sem aval do Congresso bilionárias.
Mais do que uma grande conspiração envolvendo mídia e elites —o mesmo discurso usado por Bolsonaro hoje em dia—, esses dois fatores explicam o porquê da força política do impeachment (não só junto à classe política, mas também à opinião pública) e sua legitimidade formal.
A narração do documentário é feita pela própria diretora num tom de voz lamurioso, que reforça o vitimismo da histórica contada: o PT como pobre vítima de um sistema corrupto dirigido pelas elites.
Um documentário mais imparcial contaria uma história diferente: o PT, que ascendeu ao poder já com escândalos de corrupção às costas, implementou sim programas sociais importantes, ao mesmo tempo em que beneficiou aliados políticos e empresariais escolhidos politicamente para sustentá-lo no poder.
Na medida em que sacrificou as conquistas econômicas que recebeu do governo FHC (responsabilidade fiscal, metas de inflação) e apostou no crescimento via consumo e gasto do governo, minou as bases de um crescimento sustentável no país. O aparelhamento institucional e os esquemas de corrupção para financiar a máquina partidária, quando descobertos, selaram seu destino.
Tendo feito o que fez, e ainda assim se apresentar como vítima inocente do sistema, o PT sem dúvida merece Oscar de atuação.
Seja como for, o filme tem seus méritos também. O ritmo da narrativa mantém o espectador interessado na história, há imagens bonitas e muito bem escolhidas, e ainda conta com um material de arquivo inédito.
Enquanto filme —à parte a narração chorosa—, funciona. É o bastante para vencer o Oscar? Difícil saber. Mas já que a regra agora é Brasil acima de tudo, aos detratores do filme resta torcer: vai Petra!
*Publicado na Folha de S.Paulo
Vale um óscar para o escriba ai em cima, dizer que o impeachment da Dilma foi legitimo é corar de vergonha freiras virgens,eles tramaram a deposição da presidente e forjaram uma crise onde o emprego era pleno e a economia nem triscava o que está sendo hoje,gás custava 40 reais ,diesel 2.25,e mesmo assim caminhoneiros idiotas faziam piquetes.
Deixa passar o carnaval e quando os cartões vencerem vão ai sim ter uma comparação da era Dilma com isso que está posto ai hoje.
Interessante e até mesmo instigante que gente pretensamente esclarecida ainda insista na questão das “pedaladas” fabricadas contra a Dilma. Que era uma porcaria a política econômica, isso não há como negar, mas que o bloqueio da quadrilha legislativa foi muito mais eficaz na crise, isso também é difícil de afastar.