por Juca Kfouri
O novo ano terá duas efemérides que marcam a história de nosso futebol
Preparem-se a rara leitora e o raro leitor para doses cavalares de histórias sobre a inauguração do Maracanã e sobre a conquista do tricampeonato mundial pela seleção brasileira.
No dia 16 de junho, os 70 anos do primeiro jogo no estádio Mário Filho, o jornalista pernambucano, irmão de Nelson Rodrigues e grande incentivador da construção do então maior estádio do mundo: Paulistas 3, Cariocas 1.
No dia 21 de junho, os 50 anos do tri, com a vitória brasileira por 4 a 1 sobre a Itália, no estádio Azteca, no México, e a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Ângulos não faltarão e não descartem a possibilidade de revelações sobre as duas datas, com protagonistas contando segredos guardados há tantas décadas.
Constatações óbvias serão feitas, nem por isso livres de contestações.
Por exemplo: o Maracanã é o cartão de visitas do futebol brasileiro, palco por onde desfilaram gênios como Didi, Mané Garrincha e Pelé, para citar apenas três craques eleitos como os melhores de três Copas do Mundo, em 1958, 1962 e 1970, na Suécia, Chile e México, respectivamente.
Mas estádio de recordações mais tristes que felizes para a seleção, o Maracanazo de 1950 versus a medalha de ouro olímpica de 2016.
Ah, sim, no próximo 16 de julho também será lembrada, pela 70ª vez, a derrota para o Uruguai.
No mesmo Maracanã que viu Zico nascer, Rivellino brilhar, Romário estraçalhar e que curiosamente recebeu festas maiores de times paulistas que de cariocas: do Palmeiras, campeão da Copa Rio, em 1951; do Santos, campeão mundial, em 1963, e do Corinthians, idem, em 2000, noves fora a invasão corintiana de 1976 quando 70 mil fiéis tomaram o estádio e fizeram da Via Dutra a Avenida Corinthians.
Aliás, no próximo dia 14 também serão comemorados os 20 anos da conquista do primeiro Mundial de Clubes da Fifa. Parece que foi ontem…
Do tri o distanciamento é maior e permite outras considerações.
Apontada pela Fifa como a melhor equipe da história das Copas do Mundo, a seleção de 1970 excedeu.
Tinha Carlos Alberto Torres na defesa, Clodoaldo no meio de campo e, digamos assim, o ataque Jagertoperi, com cinco números 10 —Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e —Rivellino, embora, é claro, não desempenhassem a função ao mesmo tempo e nem sempre tenham sido 10 onde atuaram.
Terá sido mesmo a melhor seleção de todos os tempos?
Não, não pensem que a vida adulta permita compará-la à de 1982.
A heresia que cabe diz respeito a outro sentimento, aos afetos e memórias da infância, sempre imbatíveis.
Ao time de 1958, o que enfiou 5 a 2 na decisão e nos suecos donos da casa. Aquele que tinha Didi, repita-se, eleito o melhor do torneio, Mané e Pelé juntos. Além de Gylmar no gol. Dos Santos, Djalma e Nilton, nas laterais. De Zito no meio de campo.
Sete craques de ouro, como foram sete em 1970, mas sem Didi e Garrincha.
Acreditem, faz diferença!
A criança que viveu 1958 tem o direito da heresia, mesmo que possa parecer saudosismo, embora, no caso, o termo seja mais adequado para lembrar de cinco décadas atrás, não de 62 anos atrás.
Saudosismo é coisa de velho, é diferente das lembranças de criança, não sei se me explico bem.
Enfim, preparem-se.
Vêm aí, torrencialmente, fantásticas rememorações de tempos gloriosos do futebol.
Acreditem, é tudo verdade. Até o que não for…
*Publicado na Folha de S.Paulo