O barulho começou na madrugada, há pouco tempo. Era de um bicho arranhando madeira. Vinha do vão que existe entre o armário da cozinha, que é colado na parede, e o piso. Certeza. Aí começou!Todo dia, depois da meia noite, batata! Como o bicho entrou ali era outro mistério. Havia, sim, uma minúscula passagem perto do azulejo. O resto, tudo fechado. Mas… porque o desgraçado não saiu mais? Uma ratoeira foi colocada na portinha daquela mansão. Só podia ser rato. Queijo de primeira. No outro dia… nada. O artefato estava deslocado – e o Gouda, intacto. O marceneiro que montou os armários estava na praia. Ao telefone disse que talvez fosse uma lagartixa. Como? Veneno de rato, tipo chumbinho, foi colocado e espalhado para dentro do espaço pelo ar de um secador de cabelo. Agora vai! Vai o quê? A sessão de barulho aumentou. Imaginei que o animal, de qualquer espécie, tinha mandado pra dentro todas as bolinhas verdes achando que era droga alucinógena. E acho que era – para ele! O barulho se tornou infernal e constante. Depois de uma madrugada insone, peguei o martelo e quebrei o armário, com tudo dentro. Serrei o piso dele, tirei inteiro… e vi. Não era mais uma lagartixa – e sim um jacaré. Comecei a gritar e um vizinho chamou o serviço de remoções. Passei uma semana sob o efeito de sedativos. O problema agora é outro. Como vou voltar pra casa. Acho que o bicho deve ter se apossado da minha cama – para assistir as novelas e as séries.